Diniz, o aliado do caos (parte 2): No caos há ordem

Entre para nossa lista e receba conteúdos exclusivos e com prioridade
Entre para nossa lista e receba conteúdos exclusivos e com prioridade

Por: Matheus Almeida

Alternativas e dinâmicas específicas na Gestão do Caos

Durante as partidas, de acordo com o modo que o adversário apresentava lacunas e possibilidades para o Fluminense de 2023-2024, Diniz e os atletas já se comunicavam para que se gerasse caos nesses setores, com a interação entre jogadores de características específicas no mesmo local do campo.

O primeiro gol do Fluminense na final da Libertadores contra o Boca é a prova disso. Diniz orienta Keno para que ele atravesse o campo e faça uma dobra com o ponta oposto Árias, para gerar combinação de velocidade, habilidade e quebra de linha pelo lado direito. Assim, Keno vai para o lado oposto entrar na “estrutura caótica” para se associar ao Árias e assim participam da jogada do gol.

Quando Diniz faz um padrão de substituição muito realizado (Saída de Ganso para entrada de Lima e saída de Marcelo para entrada de Diogo Barbosa) dois jogadores com características diferentes dos que foram substituídos entram na estrutura caótica. Assim, muda-se a forma do todo, pois as características que estarão se relacionando serão outras.

Assim, a equipe se torna mais ofensiva em momentos em que se aplica a estrutura caótica nas beiradas, e também em momentos em que a equipe está com maior amplitude na construção, se organizando um pouco mais posicional (ainda com trocas de posição e muito peso na última linha adversária, mas sendo um ajuste estratégico específico que o Fluminense pode apresentar). A equipe, com essas substituições, passa a ter uma dinâmica mais veloz e vertical, com mais ataques à profundidade e mais rupturas de última linha em velocidade, principalmente com Diogo, que ataca mais o fundo que o Marcelo, assim como na grande chance criada por Diogo na final contra o Boca. Gestão dos elementos do sistema caótico.

Em questões estruturais, há muitas alternativas que podem ser aproveitadas fornecidas pela estrutura caótica, como é a busca do pivô, ou o giro caso jogadores em apoios frontais não recebam a bola, ficando de frente como opção, como no vídeo a seguir.

Vídeo 5. Padrão: Jogador sai de apoio frontal, fica de frente e ataca a profundidade como opção de passe.

Fonte: Globo

Nessa estrutura também se gera jogadas que se repetem, como por exemplo, a tabela 2×1 contra o lateral adversário com posterior domínio orientado para a área (como no movimento da expressão de jogo “bate para dentro” do basquete) em velocidade, seguido de cruzamento de retorno para o finalizador, como no vídeo abaixo.

VÍDEO 6. Padrão: Tabela 2×1 seguido de finalização

Fonte: Globo

Em documentário que mostra os bastidores da campanha do título da Libertadores do Fluminense em 2023, em uma das preleções Diniz, em tom de relembrar conceitos, diz aos seus atletas duas questões:

“Vamos dar ordem ao caos” […] “ficou na dúvida? Organiza. Organizou, Caos neles”. Fernando Diniz, Documentário Todo dia é 4 de Novembro da Globoplay

Dar ordem ao Caos, já abordei os motivos dessa fala. Mostra que Fernando Diniz tem conhecimento sobre a teoria do Caos no futebol e usa isso como base da sua ideia de jogo. No caos há ordem, os fractais são pequenos padrões que se repetem e dão ordem à uma estrutura caótica na interação entre os elementos do sistema.

Já o “organiza”, dito por Diniz, tende a se referir à ação coletiva de abrir os dois pontas, realizar uma saída a 3 com um apoio interno (3 +1), ou a 4 com dois apoios (4+2), Cano de 9 segurando zagueiros, laterais inicialmente abertos, ganso adiantado entre linhas, equipe com mais amplitude, aguardando o momento de saírem de suas posições para gerar a estrutura caótica, ou gerar situação de 1×1 em determinado lado do campo. Veja no vídeo.

VÍDEO 7 . Dinâmica ofensiva geral Fluminense

Fonte: CazéTV

Fragilidade

O sistema, porém, tem suas fragilidades. Uma delas é quando o adversário também leva muitos jogadores ao lado da bola, encaixando na estrutura caótica. Assim, a equipe busca retirar o lado, virar o jogo. Nesse momento, os jogadores da estrutura caótica permanecem onde estavam, e o adversário vai se movimentar para o lado que a bola foi lançada. Quando o Fluminense retira o adversário da sua estrutura caótica ele retorna à bola ao lado que a jogada estava, com a equipe em vantagem numérica e, com essa vantagem, consegue progredir em sua dinâmica. Ótima solução.

VÍDEO 8. Fluminense retira a bola da zona congestionada, e retorna a bola para a mesma zona após remover o adversário deste setor, agora atacando em vantagem numérica com a estrutura caótica posicionada

Fonte: ESPN

Entretanto, quando o adversário também leva muitos jogadores ao lado da bola e realiza encaixes agressivos nos jogadores da estrutura caótica e pressão forte na bola, dificulta para o Flu, como foi em alguns momentos contra o Manchester City, como foi contra o River Plate no primeiro tempo de jogo, no histórico 5×1 do Flu, e também contra o Palmeiras, na reta final do Brasileirão.

Quando o Fluminense perde a bola, está com seu lado oposto muito aberto. Caso o adversário esteja com jogadores posicionados e preparados para atacar esse espaço com velocidade e verticalidade, o Fluminense pode sofrer uma finalização ou até um gol. Como no vídeo abaixo.

VIDEO 9. River Plate encaixando a marcação com coberturas curtas | Palmeiras gera volume no lado da bola com marcações por encaixe, deixando apenas o jogador base da estrutura caótica livre, mas fechando suas linhas de passe, recuperando a bola e acionando jogadores no lado oposto | Man City gera volume no lado da bola com marcações por encaixe, forçando a bola longa, recuperando a posse já no lado oposto livre.

Fonte: ESPN, Globo e CazéTV

O jogo do Fluminense de Diniz tem seus riscos. Os treinadores não conseguem controlar tudo o que ocorre no jogo, e o jogo é caótico e imprevisível. Porém, alguns ajustes podem ser feitos, sem abrir mão do caos da maneira que se realiza, para que se possa ter uma maior proteção pós perda de bola, como por exemplo, fixar um volante à frente dos zagueiros, assim preencheria melhor o espaço vazio.

Diniz sabiamente aborda que jogar contra clubes do mais alto nível te ajuda a desenvolver a equipe. Adversários como City geram problemas e aproveitam lacunas que os sul-americanos não conseguem aproveitar com frequência e eficiência, assim, jogos como os do Mundial, fazem Diniz visualizar falhas do sistema que não eram problemas até então, ou por vezes não eram percebidas. Começo a ver que o Dinizismo é um novo óculos para o futebol brasileiro, pois nesses últimos anos tivemos muita influência da escola europeia, que nos ajudou a compreender que estávamos atrasados em muitos processos, porém acabou colocando de lado o melhor que o jogo dos atletas brasileiro têm: a relação com bola em alto nível técnico (por isso a constante exportação para a Europa). Diniz vem para mostrar que, se havia uma defasagem tática no atleta brasileiro, existem maneiras que já conhecíamos, nas ruas, quadras e campinhos de terra, que contribuem para que a tática também evolua, e de um jeito genuinamente brasileiro.

Compartilhe

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on email
Share on pinterest

Deixe o seu comentário

3 respostas em “Diniz, o aliado do caos (parte 2): No caos há ordem”

You’re so awesome! I don’t believe I have read a single thing like that before. So great to find someone with some original thoughts on this topic. Really.. thank you for starting this up. This website is something that is needed on the internet, someone with a little originality!

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais conteúdo valioso