A preparação desportiva por muito tempo teve como objetivo principal o desenvolvimento físico e técnico dos atletas. Esse fato ocorreu, pois o futebol importou e incorporou as teorias provenientes do atletismo e do fisiculturismo.
Com o passar dos anos, as teorias e os paradigmas que norteavam o treino foram se modificando.
Hoje, estamos em pleno processo de integração das componentes do jogo de futebol. A complexidade é o paradigma emergente, porém não é trivial criarmos uma sessão de treino que integre e desenvolva as capacidades física/técnica/tática/mental dos jogadores de forma ideal.
Antes mesmo de pensar a sessão de treino é preciso olharmos para o jogo e fazer uma breve análise de como é nossa capacidade de entendimento do mesmo, pois a forma como enxergamos o jogo reflete diretamente na nossa concepção de treino. Logo, para podermos discutir e criar treinos sobre uma nova perspectiva, é preciso olharmos para o jogo através dos óculos da complexidade.
Com esses óculos podemos observar que o jogo é físico, é técnico, é tático e é mental de forma integrada. A partir dessa análise podemos iniciar o pensamento sobre o treino pautado na complexidade.
Se o jogo é físico, é técnico, é tático e é mental, o treino precisa ser da mesma forma. Se isso não ocorrer, estamos indo contra a especificidade da modalidade. O treino sobre a perspectiva da complexidade deve gerar adaptações específicas no jogar da equipe e não apenas no correr, passar ou ocupar um espaço dos jogadores.
Mas como fazer isso? Trazendo o jogo para o treino!
A resposta parece óbvia, mas carrega uma infinidade de conceitos e conteúdos. Trazer o jogo para o treino significa submeter os jogadores as imposições do jogo, porém de maneira orientada e sistematizada pela comissão técnica.
Trazer o jogo para o treino não significa ainda criar vários mini-jogos ou passar apenas coletivos para a equipe.
Trazer o jogo para o treino é criar um ambiente de desenvolvimento pautado no jogo e para o jogo. Neste ambiente, o DNA do futebol estará presente.
Este DNA nos mostra que o jogo é imprevisível, que seus acontecimentos são aleatórios, que há sempre uma disputa entre duas equipes, que há um campo e uma bola…
Porém, não basta apenas ter o DNA do jogo, senão ficaremos na “metodologia do jogo pelo jogo”. Precisamos ir além e criar regras que potencialize determinados comportamentos que desejamos para a equipe. Por exemplo, se quero trabalhar a manutenção da posse de bola, devo criar regras em que a equipe seja beneficiada quando fica com a posse de bola, ou seja, a equipe marca ponto quando fica com a bola por um determinado tempo ou quando trocar n passes.
Esse tipo de regra não descaracteriza o jogo e cria uma situação onde um determinado comportamento é estimulado.
Cada atividade com sua regra traz uma situação-problema para os jogadores que precisam criar estratégias para resolver cada uma delas. Essa capacidade de resolução de problema deve ser estimulada treino a treino; entretanto, para que isso ocorra de forma gradual, é preciso organizar um processo em que cada atividade terá ligação com as demais e trará sempre uma nova informação para cada um dos jogadores, criando assim um ambiente de aprendizado constante.
Criar as atividades e organizá-las processualmente não é nada trivial, entretanto é um desafio que se faz necessário nesta metodologia pautada na complexidade.
Por conta da “complexidade” do assunto, continuaremos discutindo essa temática nas próximas colunas!
Até a próxima!
Para interagir com o autor: bruno@universidadedofutebol.com.br