Há cerca de dois meses, o Chelsea publicou que poderia mudar sua casa para a antiga usina termoelétrica de Bettersea. Trata-se da maior construção de tijolos da Europa e, para que pudesse ser um novo estádio para o clube inglês, deveria ter uma grande gama de especialistas para o projeto.
A ideia é difícil de sair, pois alguns torcedores têm direitos financeiros sobre o Stamford Bridge, além disso, a construção é complicada.
Além disso, há cerca de três semanas, a Ernst & Young, empresa que gerencia o prédio, informou que um consórcio malaio venceu a concorrência e terá direito a comprar a construção.
Segundo comunicado público divulgado, as empresas compatriotas Setia e Sime uniram-se e fizeram uma proposta de 400 milhões de libras (pouco menos de R$ 1,3 bilhão) para assumir o controle da antiga fábrica. O consórcio pretende usar o local da usina e terrenos próximos para erguer um enorme complexo comercial e residencial.
No entanto, deixando a viabilidade de lado, explicarei, baseado na minha experiência com restauro, como seria o processo de projeto desse novo estádio com capacidade de 60.000 torcedores (contra 40.000 do atual).
Acima, Stamford Bridge, casa atual do Chelsea
Para a concretização deste projeto, a equipe deveria ser formada por dois grupos: o de projeto de estádios (especializado) e o grupo de restauro (composto por arquitetos especializados em restauro, historiadores, restauradores para fazer prospecções e topógrafos).
Para início, deveria ser feito o levantamento detalhado, do que existe hoje, suas patologias e também prospecções para descobrir materiais e cores originais. Junto à equipe de projeto, decidiria-se o que deveria ser preservado, então. Independente do quê, tudo deveria ser registrado em desenhos e em fotografias.
A partir daí, cada equipe desenvolveria o seu projeto, conversando entre si para compatibilização das ideias e interferências estruturais. A parte de restauro iria identificar todos os serviços a serem feitos (limpezas, lavagens, trocas de materiais, consertos, impermeabilizações, restauro de elementos, etc.) e definiria as novas intervenções, com especificações de materiais e cores que se destaquem na construção salientando a nova intervenção.
“Restaurar um edifício não é mantê-lo, repará-lo ou refazê-lo, é restabelecê-lo em um estado completo que pode não ter existido nunca em um dado momento.”
Viollet LeDuc, restaurador renomado
A intenção para o novo estádio do Chelsea seria usar a imagem icônica da construção para marcar o estádio. Para isso, as torres seriam mantidas e lavadas. No entanto, o perigo é se tornar o antigo Wembley, com uma arquitetura pesada e que foi perdida na renovação mais recente. Pode funcionar como ícone, mas não necessariamente de beleza.
A descaracterização da construção é necessária para a construção do estádio e, eu, como profissional da área, acredito que não seja um benefício nem para o Chelsea, nem para a história da Usina de Battersea.
Para quem não conhece, a usina já foi capa do álbum do Pink Floyd, “Animals”, e também de gravação de vídeo dos Beatles (Help!). É um edifício muito grande, muito famoso, com história importante e com suas peculiaridades.
É também protegida em Londres, o que dificultaria ainda mais a intervenção drástica que uma arena exigiria. Teria que ser muito modificado para conseguir ser transformado em estádio.
Vale mais a pena se manter em casa, Chelsea!
Para interagir com o autor: lilian@universidadedofutebol.com.br