Percorri 2.200 km em quatro dias nesta semana que passou.
Objetivo: mais do que vistoriar ou fiscalizar, conhecer as lideranças locais e a realidade das instalações esportivas do Estado do Paraná que sediarão os Jogos Escolares Bom de Bola e documentar através de imagens e relatórios.
Os Jogos Bom de Bola fazem parte de uma iniciativa da empresa Parati Alimentos que, há 20 anos em Santa Catarina e há 15 anos no Rio Grande do Sul, realiza esta competição de futebol em âmbito escolar para meninos e meninas, com a chancela oficial das Secretarias Estaduais de Esporte e Educação.
A intenção é lançar mão do futebol como meio de formação e desenvolvimento humano dos jovens.
Por tal razão, não se permite a participação de seleções municipais ou equipes desvinculadas de escolas públicas ou particulares.
Neste ano, quase 18 mil serão os participantes na competição.
A equipe da escola começa e termina o campeonato. Naturalmente, todo um conjunto de valores vivenciados pelos jovens ao longo dos quatro meses de disputa traz como legado positivo para toda a vida dos participantes.
O legado almejado pelo Bom de Bola é integrar esporte, educação e cultura e transformar a realidade dos participantes de maneira positiva e duradoura.
Como efeito colateral positivo do projeto, alguns deles se tornaram jogadores profissionais de futebol e atuam em grandes clubes do Brasil e do exterior.
Embora a viagem tenha sido bastante proveitosa, também pelas belíssimas paisagens dos Campos Gerais, bem como pela acolhida calorosa das pessoas envolvidas nos Jogos em cada uma das cidades visitadas, algumas reflexões foram trazidas na bagagem.
Pude testemunhar certo mau uso da infraestrutura dedicada ao futebol. Aqui me refiro às instalações que não pertencem às escolas, mas aos municípios.
Os relatos dos profissionais com quem conversei também confirmam a articulação abaixo do esperado entre Estado, Munícipio, Escolas e Professores.
Refiro-me, principalmente, à falta de programas continuados dedicados ao esporte.
Obviamente, quem sucumbe são os jovens que já estão engajados na prática esportiva e, também, muitos outros que estão à margem e suscetíveis dos riscos sociais relativos à violência, desocupação e consumo de drogas.
Muito bom poder ver de perto a realidade e tentar contribuir para a evolução do cenário esportivo-educacional do Paraná.
O diálogo com toda a cadeia de envolvidos nos Jogos Bom de Bola resta qualificado – Poder Público Estadual e Municipal, professores, atletas-estudantes, familiares, parceiros estratégicos – e essa foi a intenção de coletar dados e impressões.
O potencial de transformação social por meio do esporte começa na escola.
Porém, enquanto não se considerar essa visão como algo politicamente institucionalizado na gestão pública – e fazer com que o esporte deixe de ser entendido como algo opcional, acessório – será um árduo caminho.
Os Jogos Escolares Bom de Bola pretendem ser um dos exemplos de integração público-privada na promoção e desenvolvimento social pelo esporte.
Longo e sinuoso caminho.
Maior que os 2.200 km percorridos.
Mas com belíssimas paisagens e histórias pra contar quando se chegar ao destino.
Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br