Em geral, o fracasso no esporte ou em qualquer outra área de desempenho, tende a impactar diretamente em nossa autoestima. As sensações de uma derrota podem resultar na queda da autoconfiança, preocupação excessiva ou mesmo um grande sentimento de culpa. Numa ocasião em que uma equipe de futebol depara-se com uma derrota de um jogo importante ou talvez do jogo mais importante de uma competição uma pergunta vem à tona, o que fazer agora? Como recuperar este grupo? E talvez poucos reflitam e se perguntem: o que o grupo aprendeu com essa derrota?
Mesmo que pensamentos negativos tendam a dominar por completo a cabeça dos jogadores, não há nenhuma razão aparente para que isso aconteça. Deve-se lembrar de que o fracasso não é o grupo ou um atleta específico, mas sim alguma situação que estes estão passando no momento e que como toda etapa momentânea ela certamente se encerrará. Os grandes campeões também falharam um dia, ninguém está livre disto. Mas os grupos coesos, compostos por atletas comprometidos e com um objetivo comum desenvolvem estratégias para aprender e se beneficiarem dessas experiências.
Mas por onde começar? Quanto mais cedo os times e seus atletas que o compõem aprendem a reagir a obstáculos, adversidades e desafios de modo positivo e concentrado, melhor se sairão no próximo desafio. Qualquer momento infeliz numa partida pode gerar certo abatimento, mas também deve servir de lembrete positivo de que o time precisa se concentrar totalmente na próxima partida. Podemos traduzir isto em redirecionar a energia de modo mais produtivo e analisar atentamente os erros num momento mais apropriado. Devem-se repassar mentalmente alguns movimentos mais importantes, ou pontos de decisão, e com isso procurar extrair lições que ajudem a se concentrarem melhor da próxima vez. Isso serve como orientação para o atleta individualmente falando e também para o time, porque não? Caberia aqui perfeitamente uma visualização guiada, por exemplo, como exercício de aprendizado. As lições construtivas que cada um pode extrair desta análise cuidadosa fornecerão um preparo mental adequado para uma melhor atuação no futuro.
Mas é necessário deixar para analisar erros após os jogos, pois após uma jogada mal sucedida em campo o atleta certamente terá outra nova jogada a ser executada, para a qual ele precisará estar totalmente concentrado no jogo e poder exercer o melhor de suas habilidades. Os atletas devem estar orientando o foco para jogar, afastando-se do sentimento e raiva ou aborrecimento, pois esta emoção interfere diretamente na capacidade de concentração. A única forma e libertar seu corpo para uma performance excelente é eliminar de sua mente qualquer pensamento negativo sobre o passado ou futuro, livrando-se de toda a ansiedade e conseguindo se concentrar totalmente nas tarefas que ainda restam realizar e sobre as quais o atleta ainda tem controle.
É necessário manter o pensamento positivo e gerir a autoconfiança, sendo que para isso o ambiente no qual o time em recuperação está inserido é também fundamental para criar um cenário harmônico no qual os atletas possam encontrar um amparo adequado para o seu desenvolvimento.
Dietmar Samulski, psicólogo do Esporte e doutor em ciências do Esporte possui uma literatura de referência àqueles que desejam compreender melhor este cenário de recuperação da motivação. Neste vasto manancial podemos destacar a utilização de algumas medidas de automotivação, ou seja, medidas que qualquer pessoa pode aplicar assumindo o controle sobre seu próprio comportamento para regular seu nível de motivação do grupo. Dentre estas medidas temos as técnicas cognitivas que correspondem a todas as funções psíquicas como, por exemplo, o processo de percepção, imaginação e memória do indivíduo.
• Mentalização das capacidades positivas, para criar motivação diante da situação-problema. Ex: “Eu consigo realizar isso” ou “Eu acredito na minha preparação”.
• Mentalização de metas concretas, que consiste em mentalizar situações concretas de treinamento e competição, como os seguintes exemplos: “Eu posso melhorar meu rendimento com treinamentos intensivos” ou “Eu imagino o time conquistando o título”.
Deve-se também utilizar as técnicas de autoafirmação, sendo estas o reforço material e a manifestação interna do autoelogio.
• Reforço positivo após boas ações, utilizando afirmações do tipo: “Eu estou feliz com meu rendimento” ou “Eu penso comigo: você realizou uma ótima partida”.
• Antecipação mental de autoesforços, utilizando afirmações do tipo: “Eu ficarei feliz comigo mesmo” ou “Eu sugiro a mim: farei algo grandioso mais tarde”.
• Antecipação de reforços externos, utilizando afirmações do tipo: “Eu penso no meu reconhecimento da imprensa” ou “Eu penso em um novo contrato de trabalho”.
Outra medida é a utilização de técnicas motoras, no qual podemos fazer os atletas reagirem ao desânimo por meio da movimentação.
• Automotivação por meio do movimento e exercício. Ex: “Eu me tranquilizo me movimentando” ou “Eu corro na chuva, então me sinto incrivelmente forte”.
• Participação ativa e autorresponsabilidade. Ex: “Eu participo ativamente do treinamento” ou “Eu participo no planejamento do treinamento, por isso treino mais motivado”.
E por fim, mas absolutamente importante temos as técnicas emocionais, pois determinados atletas estimulam-se essencialmente através de sensações e emoções positivas durante a execução do movimento.
• A sensação de fluidez ou Flow-feeling, a sensação de alegria que ocorre durante a realização de uma atividade. Ex: “Eu corro como uma máquina perfeita” ou “Eu tenho o domínio completo sobre meus movimentos”.
• A sensação de sucesso ou Winning-feeling, a sensação de sucesso durante a realização da atividade. Ex: “Sinto que o próximo chute sairá perfeito” ou “Durante uma partida sempre acredito que podemos ganhar”.
• A sensação de união do grupo ou Group-feeling, um sentimento de identificação emocional com o grupo. Essa técnica promove um clima emocional positivo, gerando uma união do grupo em torno de um objetivo comum e a consequente satisfação de seus membros. Ex: “Sinto-me muito bem aceito e seguro neste grupo” ou “Identifico-me totalmente com o objetivo deste grupo”.
Bem, temos então razões de sobra para concluirmos que é possível um grupo aprender com uma derrota e através deste aprendizado tornar-se mais forte e preparado mentalmente para novos desafios.
Agora, cabe aos clubes através de seus gestores do futebol e de suas respectivas comissões técnicas lançarem mão de tais métodos para uma pronta e eficiente recuperação de seus times e aprendizado contínuo em tempo de competição.
Para interagir com o autor: gustavo.davila@universidadedofutebol.com.br