Esse é um conceito bastante antigo, remonta ao século XVII e à descoberta da teoria das probabilidades. No ambiente corporativo, há décadas passou a ser utilizado de forma abrangente para minimizar a exposição das empresas frente à eventos indesejados. Consiste em se estabelecer políticas que objetivam reduzir ao máximo os efeitos de potenciais perdas às pessoas e ao patrimônio e imagem das empresas, a partir da utilização de um conjunto de técnicas e ferramentas.
Como de costume, o futebol (e os outros esportes) passa longe das melhores práticas quando o assunto é gerenciamento de riscos. Aliás, não se fala nesse assunto nos clubes brasileiros.
A aplicação da gestão de riscos nos clubes se justifica por dois motivos. Primeiro, pela necessidade natural de qualquer empresa de se proteger, principalmente no que tange aos riscos financeiros e de imagem. Neste último caso é fácil ver o quão expostos estão os clubes, basta observar os efeitos que problemas de gestão e declarações de alguns dirigentes menos preparados acarretam sobre a marca de instituições centenárias. Aliás, não há nenhum guardião dessas marcas nos clubes.
O segundo motivo para implantação da gestão de riscos está no departamento de futebol em si. Além de lidar com decisões de grande incerteza (que por si só já justificariam a implantação de uma política de riscos), é nele que se concentra a maior parte do orçamento dos clubes.
Diariamente as áreas de futebol tomam dezenas de decisões relacionadas ao seu elenco profissional e suas categorias de base. Vão desde a contratação ou venda de um determinado jogador, à negociação salarial de outro, ou a dispensa de um garoto da categoria de base no qual o clube já investia há anos. Este conjunto de decisões impacta fortemente os orçamentos dos clubes, mas a grande maioria deles continua a tomar decisões utilizando processos o mais subjetivos possíveis, pessoas sem a qualificação necessária, e sem políticas e procedimentos claros nem ferramentas adequadas para isso.
Como se não bastasse, essas decisões não são tomadas de maneira planejada, com a utilização de cenários para quantificar os efeitos de uma estratégia eventualmente dar errada. Há muito de feeling e nada de empírico. É esse conjunto de aspectos que pode ser atacado com a implantação de uma política de riscos.
Não vou bancar o dono da crítica fácil, pois há profissionais de alto nível nos clubes (e não são poucos), mas como instituições, eles continuam com estruturas e práticas arcaicas.
Alguns exemplos: jogadores que são contratados e “não se adaptam”, contratos renovados fora de uma lógica de risco x retorno, promessas que não vingam e depois explodem em equipes rivais, multas milionárias pagas à técnicos por contratos encerrados antecipadamente, contratações feitas a peso de ouro para aplacar a insatisfação da torcida e conselheiros.
Vejam, as decisões de investir ou desinvestir em determinado atleta ou treinador equivalem às decisões que uma tesouraria de empresa toma diariamente para aplicar os seus recursos, com a diferença que estes utilizam um conjunto de ferramentas e seguem políticas bem estabelecidas para tomar essas decisões.
Neste momento alguns dirão a frase símbolo da simbiose incompetência comodismo: “mas no futebol é diferente”. De fato, uma decisão envolvendo jogadores é muito complicada, devido ao grande número de variáveis que precisam ser analisadas, mas isso é um argumento a mais para a implantação de políticas que identifiquem melhor os riscos envolvidos e aumentem a chance de sucesso das decisões.
Para interagir com o autor: fernando.ferreira@universidadedofutebol.com.br