No dicionário Michaelis, um dos sinônimos para o verbo “disputar” é o verbo “competir”.
Colocar alguma coisa em disputa, então, significa colocar essa mesma coisa em competição.
Em um jogo de futebol, o tempo todo, a cada transmissão ou condução da bola, ela está se aproximando mais, ou menos, de ser colocada em disputa.
Isso quer dizer, em outras palavras, que quando os jogadores de uma equipe circulam a bola pelo campo (ou a conduzem, driblam, dominam), estão a todo instante aproximando-a ou distanciando-a de uma competição direta com o adversário.
Colocar ou afastar a bola da disputa durante uma partida de futebol é inevitável na construção do jogo de uma equipe.
Claro, quando a bola é colocada em disputa a partir da ação de um jogador, o risco de que ela seja perdida aumenta – assim como os dos desequilíbrios organizacionais decorrentes disso.
Muitas vezes, porém, colocá-la em disputa (por exemplo, com uma bola cruzada a partir da linha de fundo do campo, para um jogador que está atacando o espaço para tentar fazer o gol, contra dois defensores) é condição necessária para aumentar as chances de gol ou de uma vantagem organizacional.
O fato é que, no geral, dentro de uma curva de normalidade (verificado estatisticamente por esse que vos escreve), as equipes de futebol tendem a apresentar características típicas e de certo modo parecidas, jogo a jogo, no como e quanto colocam a bola em disputa em suas partidas.
Isso não quer dizer que, por vezes, fora da curva, equipes não possam colocar, com menos frequência do que a média “normal”, a bola em competição durante suas ações. E nem o contrário (equipes que colocam a bola em disputa o tempo todo em suas decisões circunstanciais de jogo)!
E ainda que pareça apenas uma “peça” informativa e óbvia para o jogo (colocar ou não a bola em disputa), convido aos leitores para enxergá-la (a “óbvia peça informativa”) como conceito primordial para ensinar/treinar/desenvolver jogadores a decidir/agir a todo instante durante o jogo.
Vejamos.
Imaginemos uma sequência ofensiva durante uma partida de futebol, que teve início com o goleiro em uma reposição, passou por cinco jogadores que trocaram no total de oito passes até que o desfecho da jogada fosse a finalização ao gol adversário.
Quantas vezes nessa sequência a bola esteve mais próxima de ser colocada em disputa? Nenhuma vez? Uma, três? Em todos os passes até a finalização?
Sob o ponto de vista daquilo que foi gerado como resultado final (o arremate ao gol), não há importância alguma sobre o número de vezes que a bola entrou em competição direta.
Mas, ao analisarmos jogo a jogo, uma grande quantidade de sequências ofensivas, fica evidente que quanto menos a bola é colocada em disputa na procura pelo gol, maiores as vantagens organizacionais que uma equipe conquista, e maior sua chance de construir sequências ofensivas que envolvam o adversário e terminem em finalização.
Então, em outras palavras, pode (e deve) fazer parte do conteúdo individual e coletivo de jogadores e equipes, saber potencializar, ou não, a cada ação, a colocação da bola em disputa, quando se domina, controla, conduz, passa e/ou finaliza uma jogada.
E, como conceito, o colocar ou não, a bola em disputa em uma ação, se distancia totalmente da ideia de evitar o confronto coletivo com o adversário ou a não busca pelo gol.
Saber evitar colocar a bola em disputa é um conteúdo que está subjugado a necessidade inexorável de cumprir com o objetivo do jogo a partir de sua Lógica.
Por isso abre um vasto leque de opções, caminhos e ideias, mas acima de tudo não deve perder conexão com a Lógica do Jogo – porque assim perderia sentido.
Da mesma maneira e ao mesmo tempo, cabe como conceito, em qualquer Modelo de Jogo, sem depender necessariamente da construção de um!
Mas, aí, já é uma outra conversa, tema para outro texto…
Por hoje, é isso!