É.
Nós.
Siamo noi.
É a entrada em campo na Arrancada Heroica de 1942. É o pênalti de Evair no 12 de junho, o de Marcos de 2000 e o de Zapata de 1999. O gol com bola e tudo de Liminha de 1951. A colherzinha de Ademir contra o Botafogo, no Rio-São Paulo de 1965. Os chapéus de Alex de 2002 e o gol de tirar o chapéu e fôlego de César Sampaio de 1993. O drible da vaca de Jorge Mendonça no Dérbi de 1976. O toque por cobertura de Jorginho, no 5 a 1 no Santos de 1979. O gol de Luís Pereira no Inter no Brasileiro de 1973. O gol de Rivaldo no bi-bi de 1994.
É a goleada no Boca na Libertadores. O 5 a 0 no São Paulo da primeira Academia. O 6 a 0 no Santos do trem-bola de 1996. O 8 a 0 de 1993 do Esquadrão de Ferro no Corinthians.
É a Pazza Gioia depois da “Loucura do Século”, na compra do Parque Antarctica, em 1920. É a inauguração do Stadium Palestra Italia, em 1933, antes de elevar o Jardim Suspenso, em 1964.
O gol de Zinho no Dia dos Namorados de fim da fila e o de Ronaldo para manter o jejum em 1974. O gol de Mirandinha no fim do Dérbi de 1986. O gol da virada de Romeiro no supercampeonato de 1959. O gol de Euller na virada contra o Flamengo de 1999. O gol sem cabimento de Oséas na Copa do Brasil de 1998. O de Betinho sem fundamento no bi de 2012.
É o 4 a 1 no Flamengo de 1979. É o time reserva ganhando o Rio-São Paulo de 1993. É o título paulista de 1944 sem Dacunto. O pênalti de 1942 que não pudemos bater. O Dudu voltando para a barreira depois de ter desmaiado na final de 1974 e ainda jogando com duas costelas quebradas em 1972. Julinho voltando machucado para guiar o time nos 4 a 0 de 1958 contra o Corinthians. É o Marcão fechando a meta com o punho aberto e quebrado.
É ser duas vezes campeão brasileiro no segundo semestre de 1967. É ganhar mais um nacional ouvindo pelo rádio, no vestiário, o rival perder o título no Mineirão, em 1969. É a Segunda Academia que ganhava títulos sem precisar fazer gol.
É o primeiro gol do Palestra, de Bianco. É o primeiro jogo, contra o Savóia, em 1915. É a melhor campanha do profissionalismo, em 1996. As maiores goleadas em decisões nacionais (8 a 2, em 1960) e paulistas (5 a 0, em 2008).
É o Brasil de 1965, que venceu o Uruguai jogando pela Seleção. É o Brasil que conquistou o planeta de verde e branco, em 1951.
É o Edmundo chamando os rivais para o drible. Jair Rosa Pinto coberto de lama vibrando no vestiário no título do Ano Santo de 1950. As Cinco Coroas de 1950-51. O primeiro campeão do Rio-São Paulo, em 1933.
É o divino Ademir. O santo Marcos. Um carrinho de Junqueira. Um passe de Romeu. Um gol de Heitor. Uma maluquice de César. A mão de Oberdan. O coração de Fiúme.
O maior vencedor de títulos nacionais. É o Campeão do Século XX. A defesa que ninguém passa em 1947. A linha atacante de raça e graça de 1996. O time que deixou o maior rival na fila em 1974 e acabou com a fila contra ele, em 1993.
Dudu no banco e Ademir da Guia em campo, em 1976. A invasão do gramado em Santo André, no bi paulista de 1994. O meio-campo titular acabando com a fila do Brasil de títulos mundiais no tetra, nos EUA. O show de Alex contra o River Plate, em 1999. São Marcos canonizado contra o Corinthians, na Libertadores.
Os bandeirões subindo e descendo arquibancada. Nós subindo e descendo pelos degraus dos estádios. Subindo pelas paredes de casa. Subindo nos pódios de campeão.
É qualquer lance no Palestra. Todo jogo ouvido pelo rádio. Cada partida vista pela TV. Todos os lances lidos no jornal ou na internet. Qualquer jogo, jogadas e jogadores contados pelo pai, avô e bisavó.
Pimpampum de Filpo. Felipão correndo para os gandulas na final de 1999. Luxemburgo descendo antes da volta olímpica de 1993. Brandão e ponto final. É ponto ganho.
É um gol de cabeça de Leivinha. É Leão dando o tapinha no travessão. Marcos apontando os dedos para cima. Evair abrindo os braços para os céus. César Sampaio com tornozelo inchado em 1993. É Arce cruzando. É Djalma Dias, Aldemar e Geraldo Scotto desarmando. É Djalminha armando. É uma falta do Roberto Carlos ou do Rodrigues.
Djalma Santos desamarrando as chuteiras de Julinho na despedida, em 1967. É gritar Tonhão. É jogar em todas como Lima e Cafu e Fiúme. É treinar na Major Maragliano. É trocar outros clubes para ser palestrino. É o 3 a 0 do primeiro Dérbi. É doar a renda para as vítimas de guerra de 1942. É abrir o clube para as vítimas da gripe espanhola em 1918.
É o primeiro uniforme do filho na porta da maternidade. É a primeira chuteira alviverde. O primeiro chute na bola que o filho gritou algo parecido com o nome do nosso time. A primeira vez que ele cantou o hino. O primeiro craque que ele chamou nosso. O primeiro amendoim que descascamos e cornetamos.
A primeira vez que teu pai te levou. A primeira vez que você levou seu filho. A primeira vez que você foi com seu amor.
Você sabe que não precisa ter visto, lido, ouvido, feito nada disso. Por nada disso ainda explicar o que é o amor.
O que somos nós. É tudo isso. É muito mais que isso. Isso é Palestra. Este é o Palmeiras.
O que é o palestrino?
É tudo que dá errado e que a gente sabe que vai dar certo só por ser Palmeiras. É tudo que dá certo e a gente ainda acha que vai dar errado por ser palmeirense.
É gol contra, é gol perdido, é frango, é falha, é roubo, é furto, é susto, é surto, é drible perdido, é jogo perdido, é campeonato perdido, é ruim e caro, é refugo, é refém, é queda, é derrota, é tristeza, é o grosso em campo, o fino da fossa, o fim do poço, o fim do mundo.
É todo o mundo palmeirense. É todo mundo palmeirense. É o nosso mundo.
Não melhor. Não pior. Mas é nosso. De mais ninguém.
Não tem pra ninguém quando a gente é Academia. Tem só pra nós quando somos Palmeiras com espírito de Palestra.
Nem sempre somos os melhores. Mas, como sempre somos palmeirenses, é mais fácil ser o que somos. Insuportáveis. Insuperáveis para o Palmeiras e para os outros.
Na saúde e nos adversários, na alegria e nos rivais, é um casamento eterno. Palestra e Palmeiras.
Nós.
É o amor.
É o nosso time.
É o Alviverde inteiro.
É.
Nós.
*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.