Num artigo publicado recentemente, um grupo de autores (Silva et al., 2014) avaliou o impacto da relação numérica nos comportamentos adaptativos em esportes coletivos, especificamente o futebol, entre os elementos da própria equipe, entre as equipes e dentro da própria equipe.
No estudo foi analisada a influência do nível de habilidade (jogadores de nível nacional e regional) avaliando a divisão do trabalho, a dispersão das equipes, o posicionamento médio e a distância da equipe de locais específicos, como as linhas de força do adversário e também a distância da própria meta.
O experimento foi realizado com 3 jogos para cada um dos grupos de jogadores. Cada jogo era realizado por um período de 6 minutos a partir das seguintes configurações numéricas: 5 vs 5+GR, 5 vs 4+GR e 5 vs 3+GR. A equipe que jogou sempre com 5 jogadores atacava uma meta de 6m x 2m e a equipe que perdeu jogadores ao longo das séries atacava 3 mini-gols de 1,2m x 0,8m, como ilustra a figura a seguir:
As dimensões do campo eram de 47,3m de comprimento por 30,6m de largura. Após cada série e devido tempo de pausa, um jogador de linha da equipe que possuía goleiro (na imagem, identificada de azul) saía do jogo seguinte. Todos os jogadores, com exceção do goleiro foram rastreados através de GPS.
A única pontuação da atividade era marcar gols, com peso equivalente tanto no alvo maior como nos mini-gols.
Em linhas gerais, os seguintes resultados foram observados: os perfis de deslocamento da equipe que jogou com o mesmo número de jogadores foram semelhantes em todos os jogos enquanto a equipe que terminou com somente 3 jogadores de linha aumentou significativamente tanto a distância percorrida como as corridas em alta intensidade.
Em inferioridade numérica, os jogadores de nível nacional ocuparam de maneira mais racional o terreno de jogo, assumindo uma forma mais circular. Já os jogadores de nível regional assumiram formas mais ovais, indicando maiores distâncias percorridas em comprimento do que em largura e, de acordo com o artigo, menor compreensão tática.
Ambos os grupos de jogadores em inferioridade diminuíram as suas dispersões quando comparados ao primeiro jogo, calculadas pela distância dos jogadores ao centro da equipe. Porém, os jogadores de nível nacional apresentaram maior índice de estiramento, refletindo a habilidade de se espalhar e cobrir a largura do campo quando em desvantagem.
Independentemente do nível de habilidade, jogar em inferioridade numérica aproximou o centro da equipe do próprio gol. Já o adversário subiu no terreno e ficou mais distante das próprias metas e mais exposto aos contra-ataques.
O último dado fornecido diz respeito às linhas de força das equipes, que se relaciona com os dados supracitados. A linha de força defensiva do time em inferioridade se aproximou da linha de força ofensiva da equipe com 5 jogadores, pois o ataque pressionou mais a defesa adversária. Além disso, a própria defesa aproximou-se dos atacantes para evitar a finalização. Em contra partida, a linha de força ofensiva da equipe em inferioridade distanciou-se da linha de força defensiva da equipe que não sofreu alterações numéricas.
O placar dos jogos foi favorável para a equipe com goleiro somente durante o primeiro jogo. Nos outros quatro jogos (2 para cada nível de jogadores) os resultados foram de um empate e uma derrota para cada equipe.
Os resultados do estudo mostram apontamentos importantes que devem ser considerados durante o planejamento de atividades ao longo de um microciclo de treinamento. Na próxima semana discutiremos a partir das tendências apresentadas em inferioridade ou superioridade numérica, a modificação de regras do jogo que, consequentemente, geram alterações na Lógica do Jogo.
Alterar o número de jogadores geram adaptações nos comportamentos dos jogadores, no entanto, a manipulação de regras pode potencializar as referidas adaptações.
Até a próxima semana!