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Nos anos anteriores foram publicadas duas colunas que tinham como elemento central da discussão a missão desafiadora de gerir o tempo dos atletas em alojamentos. Caso queira retomar a leitura destes textos acesse: coluna 1 e coluna 2.

Uma frase que ouvi esta semana, de um profissional que estimo muito, me motivou a voltar a escrever sobre o tema. A expressão é a seguinte: “o sistema nos prepara para falhar”. De imediato, percebi o quão impactante é a frase e a inseri nas reflexões sobre o quanto sou responsável, como profissional de categorias de formação, por estimular os jovens jogadores a terem uma visão mais crítica sobre as profissões e sobre seus papéis enquanto cidadãos.

O sistema quer a alienação, a reprodução e a mínima educação. No ambiente do futebol, como uma parcela da sociedade que muito bem a representa, se não tomarmos cuidado, a tendência pode ser (e muitas vezes é) a mesma.

Numa tentativa de ir à contramão do sistema, há alguns meses, o Coritiba Foot Ball Club iniciou um projeto intitulado Formação Integral. Liderado por um dos treinadores das categorias de base, Danilo Benjamim, o objetivo do projeto é envolver todos os atletas em formação do clube (e não somente os alojados) em atividades que extrapolem as duas horas diárias de treinamento de campo.

O projeto prevê uma gama de atividades de cunho cultural, social, esportivo ou educacional, como visitas a museus, teatros, ONGs e projetos sociais; ambientes de debate, leitura e reforço escolar; discussão de filmes e documentários; além de uma série de atividades esportivas, dentre elas, análise de grandes jogos do futebol mundial, análise de grandes jogadores do futebol mundial, palestras nutricionais, médicas, técnicas, jurídicas, etc.

Uma das atividades deste projeto será a análise em tempo real do clássico Atletiba, válido pela 27ª rodada do Campeonato Brasileiro da Série A. Jogadores e comissões técnicas das categorias sub-15, 17 e 19 se reunirão para avaliar tecnicamente um dos maiores clássicos do futebol brasileiro.

O “piloto-automático” que tendemos a operar nos conduziria (comissão técnica e jogadores) ao jogo para acompanhá-lo somente enquanto torcedores. Não será papel da instituição, representada pelos seus profissionais, que em um jogo deste “peso” o envolvimento e participação sejam maiores do que de um torcedor?

Como jogaram as equipes? Qual o volume de passes no campo de ataque? Quem fez mais finalizações certas? O que agradou a torcida? O que desagradou a torcida? Qual foi o elo fraco de cada equipe? Quem deu mais chutões? Quem tomou mais passes por dentro? Quem desempenhou bem as regras de ação da posição? As respostas destas e outras perguntas podem traduzir o porquê do placar final do jogo.

Esta ação traz uma série de desdobramentos positivos para o clube e é mais uma experiência, com impactos diferentes em cada um dos seres-humanos envolvidos na atividade, que tem como objetivo melhorar a formação dos jogadores e dos integrantes da comissão técnica do clube.

Desenvolver um trabalho interdisciplinar, integrar jogadores e comissões de diferentes categorias, estimular o pensamento crítico, aumentar o envolvimento com a instituição e retirar pessoas da zona de conforto é um tanto trabalhoso. Os resultados, no entanto, podem ser surpreendentes.

As vitórias nas categorias de base não devem se resumir ao que acontece dentro das quatro linhas. Parte do futuro da equipe principal, inclusive, depende do que hoje os jovens em formação fazem fora delas.

Que no Atletiba, dentro das quatro linhas, vença o melhor! E que fora das quatro linhas, mais precisamente das arquibancadas, seja computada mais uma vitória para a formação.

Vitória fora de campo que, se bem direcionada, se reverte em vitórias dentro de campo. Engraçado, não é? Ou seria surpreendente?

Até a próxima!

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