Não é raro depreciar-se e até ridicularizarem certas declarações dos jogadores de futebol em suas entrevistas à imprensa. Embora haja razões e exemplos de sobra para fundamentar certa ignorância e pobreza cultural que caracterizam tais depoimentos, é preciso destacar que, não raro certas respostas, óbvias ou surpreendentes, escondem, na verdade, uma sabedoria que precisa ser interpretada.
Primeiro é preciso considerar que algumas respostas dos atletas visam, prioritariamente, proteger suas privacidades e a relação extremamente hierarquizadas com seus superiores, e não responder objetivamente aquilo que foi perguntado.
O futebol, enquanto instituição conserva ainda um caráter bastante autoritário, onde aquele que sai do script tem que ter muita estrutura para suportar as pressões advindas de certas verdades declaradas. E isto não é exclusividade do futebol. Nossa cultura e sociedade são assim.
Afonsinho, Sócrates, Romário são exemplos de três gerações de jogadores que buscaram, dentro de certos limites, quebrar esta regra e agüentaram o tranco.
Outro fato pouco considerado é que a inteligência de um jogador de futebol não se mede apenas por sua capacidade de verbalizar idéias e pensamentos. A inteligência verbal-lingüística e a inteligência lógico-matemática são apenas dois dos diferentes tipos de inteligência destacados hoje pelas ciências.
Se entendermos a inteligência como a capacidade para solucionarmos problemas ou criarmos produtos que sejam valorizados por uma determinada cultura, como nos ensina Howard Gardner, então vamos compreender que ela envolve não só os elementos verbais e lógicos de expressão e raciocínio, como também outros elementos fundamentais do comportamento humano.
Temos que considerar também outros tipos de inteligência como a emocional, a espiritual, a visual e espacial entre tantas outras. Todas elas, em diferentes graus, importantes para o desempenho das pessoas, sejam atletas ou não.
No caso do futebol, a inteligência sinestésica ou motora tem papel fundamental. Neste sentido, podemos observar jogadores analfabetos e ignorantes que conseguem encontrar soluções motoras geniais dentro de problemas que surgem dentro do campo.
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