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Quando Rupert Murdoch, um velhinho bilionário, durão e neoconservador australiano naturalizado americano, criou sua rede de televisão por satélite na Inglaterra, a Sky, decidiu que pra ganhar dinheiro com o esquema era preciso assegurar o direito sobre três tipos de programas televisivos: filmes, futebol e pornografia. Com a exclusividade dos melhores produtos dessas três categoria, a Sky – hoje BSkyB – se tornou líder absoluta do mercado de televisão por satélite inglês, o que deixou o velhinho durão, que já era rico, muito, mas muito mais rico.
 
E já que o velhinho é um neoconservador, esqueça que aqui citei a pornografia e concentre-se nos outros dois vértices da pirâmide de Murdoch, o futebol e os filmes, que são dois dos mais valorosos produtos midiáticos e que por alguma razão raramente convergem.
 
São poucos, muito poucos os filmes existentes sobre futebol.
 
Que eu me lembre, assim de cabeça, tem aquele do Pelé jogando com o Stallone em um campo alemão de prisioneiros de guerra (Fuga para Vitória), outro do Pelé jogando com o Zacarias (Os Trapalhões e o Rei do Futebol), e um com o Pelé jogando contra bonequinhos de videogame (Pelé Eterno).
 
Sem o Pelé, lembro de um filme inglês sobre um time de presidiários que joga contra o time dos guardinhas (Penalidade Máxima), um filme de Hong Kong sobre um time de ninjas que mistura Winning Eleven com Mortal Kombat (Shaolin Soccer), um filme multinacional dum mexicano que vai jogar na Inglaterra, ou seja, na lama e na chuva (Gol), um filme brasileiro sobre uns velhos que ficam sentados num boteco bebendo e contando histórias e que por alguma razão eu não consigo achar o DVD pra alugar ou comprar em nenhum lugar (Boleiros 1 e 2 – se alguém souber, por favor me indique onde achá-los), e um filme alemão que usa o futebol pra falar sobre o relacionamento entre pai e filho (O Milagre de Berna).
 
É interessante notar as diversas maneiras como cada obra faz uso do futebol. Em algumas, o jogo é o mote da história, e em outras, ele é só o pretexto para imersões um pouco mais profundas. É o caso do ótimo “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias”, filme nacional que entra em cartaz no dia 2 de novembro e que tem tudo pra ocupar posição de destaque entre as novas produções nacionais.
 
“O Ano”, bem por cima, retrata a história de um menino mineiro, Mauro, que foi abandonado por seus pais no meio de São Paulo e que procura se adaptar a um ambiente estranho e completamente diferente daquilo que estava acostumado. Para isso, Mauro recorre a um dos poucos elementos comuns à maioria dos ambientes brasileiros, o futebol. É através do jogo de botão que Mauro mantém seu vínculo com o seu passado, é pela pelada de rua que ele consegue amenizar as mazelas do seu presente, e é na Copa de 70 que reside a esperança do seu futuro. O futebol age como um cenário interativo.
 
O diretor Caio Hamburger, porém, vai além. É possível perceber no filme uma crítica fina, porém contundente, sobre a utilização do futebol, especialmente da Seleção de 70, como meio de propaganda do regime militar, um fato que apesar de já fazer até parte do senso comum, poucas vezes foi retratado com tanta competência. Caio Hamburger deixa bem clara a euforia massificada causada pelo sucesso futebolístico e seus efeitos retóricos sobre a população.
 
“O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias” é um filme que vale a pena ser visto. Trata do futebol como poucos já ousaram fazer. É engraçado, mas que faz qualquer um chorar.
 

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