Quando o West Ham anunciou a contratação de Tevez e Mascherano, no apagar das luzes da janela de transferência européia de verão, o mundo do futebol foi pego de surpresa. Afinal, ninguém esperava que os jogadores argentinos do fundo internacional MSI que atuavam no Corinthians do Brasil fossem parar num clube mediano da mais rica liga nacional de clubes do planeta, a Premier League inglesa. Um sinal da forte internacionalização do futebol mundial.
Depois de um começo conturbado, as coisas começaram a se ajeitar para os dois argentinos. Após apenas alguns jogos pelo West Ham, Mascherano foi repassado ao Liverpool, onde acabou assumindo a posição de titular e chegando à final da Liga dos Campeões. Tevez, por sua vez, permaneceu em Londres e assumiu posição de destaque da equipe, tendo sido inclusive escolhido pela torcida como o melhor jogador da temporada, e ajudou o time na escalada para escapar do rebaixamento. Aparentemente, depois da tormenta, havia enfim chegado a calmaria.
Entretanto, a calmaria parece ser apenas ilusória. No horizonte do West Ham, e do próprio campeonato inglês como um todo, começa a se formar uma densa e temerosa tempestade.
Logo após surpreendente transferência entre Corinthians, MSI e West Ham, a Premier League investigou como ela tinha transcorrido, e chegou à conclusão que algumas normas haviam sido quebradas, que papéis foram omitidos, e que mentiras foram contadas. O principal problema, aparentemente, foi o clube ter acordado uma transferência com jogadores que pertenciam a terceiros, o fundo de investimento, coisa que é proibida no regulamento do campeonato inglês. Com isso, a Premier League multou o West Ham em cinco milhões de libras, cerca de 20 milhões de reais, a maior multa já aplicada a um clube inglês.
Vinte milhões de reais podem parecer muita coisa. Porém, apesar do alto valor aplicado, alguns clubes ingleses acreditam que a punição foi muito branda, tudo porque a multa só foi financeira, e não teve dedução de pontos do time, o que contraria um certo padrão de punições da Premier League, que normalmente multa em dinheiro e deduz alguns pontos. Esses pontos que não foram deduzidos permitem que o West Ham possa ter a possibilidade de escapar do rebaixamento para a segunda divisão na próxima temporada, uma vez que ele está três pontos na frente do Wigan, o primeiro da lista da degola. O argumento de defesa da Premier League, e do West Ham, é que a multa de cinco milhões de libras já é uma punição suficientemente grande, e não há a necessidade de tamanha soma de dinheiro vir conjunta à dedução de pontos.
Entretanto, no ano que vem entra em vigor o novo contrato de transmissão da Premier League, o maior da história. Com ele, um clube com uma boa performance na próxima temporada pode receber até sessenta milhões de libras. E, mais importante pro assunto dessa coluna, um clube que cair de divisão nessa temporada deve perder em torno de vinte milhões de libras, quatro vezes mais do que o valor da multa aplicada ao West Ham.
Não é por acaso que o West Ham não vai recorrer da multa. E também não é por acaso que seis clubes da Primeira Divisão estão estudando maneiras de entrar na justiça contra o West Ham e contra a Premier League. Colocando de uma maneira resumida, caso a batalha jurídica realmente aconteça, será uma briga por oitenta milhões de reais. E brigas que envolvem tamanho montante tendem a não ser lá muito pequenas.
Essa briga, apesar de localizada, pode ter reflexos no mundo inteiro. Primeiro porque vai afetar o maior mercado de futebol do mundo, o que consequentemente já gera grandes efeitos para a rede integrada do mundo do futebol. Segundo que pode ser o princípio de alguma revolução maior no mercado de clubes, podendo inclusive dar margem a maiores rompimentos entre clubes, ligas e federações. E por último, e mais importante para o Brasil, o imbróglio pode levar os órgãos governamentais do futebol a tomar atitudes enérgicas para com a origem de toda essa confusão: os fundos de investimentos e a posse de direitos econômicos sobre transferência de jogadores.
É difícil dizer o que vai acontecer. Prevendo as possíveis danosas conseqüências de tudo isso, o ministro dos esportes britânico, Richar Carbon, urgiu os clubes a tentarem chegar a um acordo comum e não procurarem a justiça para resolver a discussão. É um sinal de que os efeitos dessa briga podem ser maiores do que se imagina.
O horizonte é tenebroso na Inglaterra. Os efeitos da tempestade são imprevisíveis para o mundo. E a origem disso tudo, curiosamente ou não, está no futebol brasileiro.
Culpa da globalização.
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