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Leia com atenção o título desta coluna. Agora, por favor, releia. Lembre-se então das comemorações pelo Brasil pós-cerimônia na Fifa no dia 30 de outubro, recheadas de manifestações populares e cercadas pelo lema positivista “A Copa do Mundo é nossa”. Lembrou? Mais uma vez, então, releia o título da coluna.
 
A Copa do Mundo de 2014, caro leitor, não é nossa. Desculpa. Infelizmente, porém, a Copa do Mundo não é, nunca foi e nunca será do Brasil. A Copa do Mundo é, sempre foi e sempre será da Fifa. E de mais ninguém.
 
Não é preciso quebrar muito a cabeça pra se chegar a essa conclusão. Afinal de contas, o nome oficial do evento é ‘Fifa World Cup’. Traduzindo literalmente, Copa do Mundo Fifa. Não Brasil, nem África do Sul, nem Alemanha. Fifa. E só. A Copa de 2010, por exemplo, é oficialmente denominada ‘2010 Fifa World Cup South Africa’, ou Copa do Mundo Fifa África do Sul. Muda o ano, muda o loca, mas a Fifa continua lá.
 
Não está convencido de que a Copa do Mundo é da Fifa e de mais ninguém? Pois bem. Eis, então, o que diz o primeiro parágrafo do primeiro artigo do regulamento da Copa do Mundo Fifa 2010 África do Sul: “A Copa do Mundo Fifa é um evento Fifa que é regido pelos estatutos da Fifa “. Mais alguma dúvida?
 
Tamanho é o poder e importância atual da Fifa e da Copa do Mundo que países se digladiam pelo privilégio de hospedar a competição. E como quem tem o poder nas mãos é a Fifa, afinal ela é a dona do evento, ela submete os países a uma série de imposições que precisam ser cumpridas sob o risco de ver a competição mudar para outra localização.
 
Basicamente, para hospedar a Copa do Mundo Fifa, o país, o seu governo e o seu respectivo comitê organizador precisam arcar com a maioria das tarefas e dos riscos envolvidos, isentando a Fifa de qualquer maior responsabilidade. Diz o Parágrafo 3 do Artigo 2 do mesmo regulamento supramencionado que “O Comitê Organizador deve desvincular a Fifa de todas as responsabilidades e abandonar qualquer ação contra a Fifa ou os membros de sua delegação por qualquer dano causado por qualquer ato ou omissão relacionado à organização e realização da Copa do Mundo Fifa “. Por mais que pareça um certo abuso, não é. Afinal, ninguém obriga país nenhum a ser sede de uma Copa do Mundo. Só o faz quem quer. E se quer que agüente as conseqüências.
 
Ao hospedar uma Copa do Mundo Fifa, um país deixa de lado um pouco de sua soberania nacional e permite que um órgão estrangeiro regule sobre diversos aspectos nacionais. A Fifa procura um lugar para hospedar e comercializar o evento. O país procura gerar louros com a associação a esse evento. Normalmente, esses louros podem vir em duas vertentes, uma interna e outra externa. Externamente, o país ganha com a exposição internacional pela mídia e um pouco, mas nada que justifique racionalmente o evento, de acréscimo no fluxo de turistas. Internamente, o país pode ganhar principalmente com a promoção do sentimento nacionalista e com o ganho de capital político pelo partido dominante no governo. Os países que se dispõem a hospedar uma Copa do Mundo Fifa, portanto, entendem que esses ganhos justificam o imenso investimento necessário para hospedar o evento.
 
O sentimento nacionalista mencionado já é visível no Brasil, principalmente pela também mencionada manifestação do lema positivista ‘A Copa do Mundo é Nossa’, que relembra muito o antigo lema ‘O Petróleo é Nosso’. Ao contrário do petróleo, porém, a Copa possui um controle internacional já estabelecido. Ou seja, ao contrário do petróleo, a Copa do Mundo Fifa tem dono. A Fifa, no caso.
 
Eu estou tentando deixar isso bem claro porque acho que a maioria das pessoas ainda não se deu conta disso. Fiquei particularmente preocupado quando estava assistindo a algum programa de televisão, acho que era o Fantástico, e vi uma família toda feliz e faceira porque diziam já estar com os ingressos para a Copa do Mundo FIFA 2014 garantidos. A família mostrava, com um sorriso no rosto, as carteirinhas da cadeira cativa do Maracanã. Alguém precisa dizer pra essa família que é bem possível que essas carteirinhas não terão valia durante a Copa do Mundo Fifa. Afinal, a carteirinha é do Maracanã, e não da Fifa. E durante a Copa do Mundo Fifa, se você tem algo que não é da Fifa, principalmente ingressos, você não tem nada.
 
Ingressos, aliás, serão provavelmente os maiores alvos de polêmica quando 2014 chegar. Como todo o país tem assumido a idéia de que a Copa do Mundo é nossa, todos acreditam que terão o direito de ir ao estádio e assistir uma partida da Copa do Mundo Fifa ao vivo. É bastante provável, porém, que essa crença não se realize.
 
Um dos maiores problemas da Copa do Mundo Fifa 2006 Alemanha foi a falta de ingressos para os próprios alemães. Aliás, a falta de ingressos para todo mundo. Muita gente queria entrar nos estádios, pouquíssimos ingressos foram de fato disponibilizados. De acordo com um levantamento feito pelo jornal britânico ‘The Observer’, 16% dos ingressos foram direcionados ao uso exclusivo dos patrocinadores, 19% foram distribuídos entre as federações nacionais representadas na Copa do Mundo Fifa, 9% à federação nacional de futebol local, 6% às federações de futebol não representadas no evento e 2% para os transmissores da competição, o que significa que aproximadamente 52% dos ingressos não foram disponibilizados para a venda aos torcedores comuns. O pouco que sobrou para os torcedores comuns, 48%, foi dividido em duas parcelas. A primeira parcela, de 12%, era composta pelos ‘hospitality tickets’, que custavam a bagatela de R$ 6.500,00 cada, o que dificilmente pode ser considerado acessível ao torcedor comum. Disso tudo, apenas 36% dos ingressos, pouco mais de um terço, ficam disponíveis para a compra direta dos cidadãos comuns. Na Alemanha, 36% significaram pouco mais de um milhão de ingressos. Levando-se em conta que a venda desses ingressos é realizada pela internet, o que torna a competição pelos lugares nos estádios acessível a qualquer pessoa no planeta, não é um absurdo sugerir que muitos poucos brasileiros terão de fato acesso à Copa do Mundo Fifa.
 

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