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Racionalmente, o futebol serve para pouca coisa. A não ser que você esteja diretamente envolvido no mercado ou que você seja um pouco disfuncional, o futebol altera pouca coisa na sua vida. Ele dá uma alegria aqui, uma tristeza ali, uns minutos de conversa acolá, mas vai pouco além disso. São poucos os que se preocupam mesmo com o futebol porque são poucos que vêem um sentido mais profundo de utilidade na sua existência.
 
Apesar de pouco útil, porém, o futebol desperta grande interesse pontual, o que faz com que ele acabe ganhando uma importância maior do que aquela que ele realmente possui. Em dias de jogo, por exemplo, o futebol se molda a partir de contornos artificiais, principalmente em partidas mais importantes. Quando elas acontecem, o futebol adquire um valor superior àquele que de fato possui. Em dia de decisão de campeonato, todo mundo quer saber e falar sobre futebol. Uma semana depois, ninguém mais fala nada. Em dia de decisão, todo mundo quer palpitar sobre tudo o que envolve o esporte. Uma semana depois, as pessoas tendem a dar pouca importância ao que de fato acontece com as estruturas do futebol.
 
Tudo isso cria um ambiente muito superficial, construído a partir de premissas rápidas, pouco fundamentadas e por vezes desprovidas de sentido e de lógica. Entretanto, esse ambiente tende a criar a base para o pensamento que se faz na busca pela mudança e pelo aprimoramento da situação atual, o que acaba fazendo com que boa parte das medidas sugeridas para a melhora do futebol seja descabida de qualquer sentido racional ou minimamente fundamentado.
 
Tal falta de utilidade do futebol para a real vida da maioria dos indivíduos em contraste com o enorme interesse pontual despertado pelo jogo faz com que o rumo do esporte seja ditado principalmente pelo regime do governo. Afinal, o interesse público é enorme, mas a disposição desse mesmo público em intervir nos seus processos é muito pequena. É como se todo mundo fosse a um restaurante e quisesse comer, mas não quisesse pagar. Como para o governo é legal que todo mundo coma, ele acaba pagando a conta. O exemplo talvez não seja dos melhores, mas acho que dá pra ilustrar a idéia.
 
Isso tudo faz com que em geral o futebol evolua de acordo com a vontade do Estado no qual ele está inserido. Uma lógica rasa sugeriria que quanto mais interessado é o governo no futebol, maiores são as chances de ele se desenvolver dentro da localidade governada pelo poder em questão. Afinal, já que o governo gosta de futebol, melhor estruturado ele será. Todavia, dois exemplos pelo mundo demonstram que essa lógica não se aplica, muito pelo contrário. Conforme esses casos nos mostram, a idéia que prevalece é que quanto menos o governo em questão gosta do futebol, maiores são as chances de ele se desenvolver.
 
O primeiro exemplo, que constantemente é mencionado por diferentes razões, é o futebol inglês, que só adquiriu o status atual por conta da rejeição ao esporte demonstrada pelo governo Thatcher. A dama de ferro não gostava de futebol. Para ela, futebol era um problema que precisava ser solucionado. E o futebol inglês só se desenvolveu porque em determinado momento ele começou a ser considerado não apenas um problema interno, mas também um problema europeu. Por conta do futebol, a Inglaterra passou a ser mal vista pela Europa. E isso fez com que o Estado inglês atuasse de maneira preponderante na modernização do sistema, que se encontrava extremamente obsoleto em meados da década de 80.
 
No Brasil isso também aconteceu, em partes. Até hoje, o grande momento de evolução do futebol brasileiro aconteceu durante o governo FHC, que se caracterizava por ser, assim como o Thatcherismo, um governo de certa forma distante da sociedade e, quase que conseqüentemente, distante do futebol. Por conta do afastamento de FHC do futebol, foi possível que algumas mudanças legislativas essenciais fossem consolidadas para que o desenvolvimento econômico e estrutural do futebol brasileiro pudesse ser mais racionalizado. No governo Lula, com laços notadamente mais próximos da população e do futebol, a racionalidade do esporte foi deixada um pouco de lado, dando lugar a uma filosofia que busca mais um equilíbrio entre o entendimento dos agentes que buscam a transformação do futebol e aqueles que buscam a manutenção da estrutura atual.
 
A racionalização do futebol será preponderante para a estruturação da Copa de 2014 e também para o melhor aproveitamento do seu legado. Para isso acontecer, a história sugere que será necessário um governo que se caracterize por não relevar o futebol como um elemento fundamental para a população brasileira, ou seja, que o próximo governo não goste de futebol. Entretanto, com a Copa, nenhum político será louco de adotar uma postura que vá contra o futebol e a popularidade despertada por ele.
 

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