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O que significa pressionar?
 
No dicionário, algumas idéias. Podemos encontrar, por exemplo, que “pressionar” significa exercer pressão sobre alguma coisa, coagir (!?) e que “pressão” é o efeito de comprimir um corpo através de outro corpo que a ele se opõe.
 
Sem que precisemos nos alongar nos significados que os dicionários trazem (e sem nos esquecermos de questões da física, biologia e psicologia que podem orientar tais significados), fiquemos atentos ao fato de que esse é um conceito presente na tática e na estratégia do jogo de futebol.
 
E é aí que muito da essência do que significa “pressionar” se perde. Na Europa, ainda que alguns discursos dos treinadores fiquem “nebulosos”, me parece haver construtos mais sólidos sobre o entendimento do significado de “pressionar” (se comparado ao Brasil). Essa idéia é reforçada quando vejo jogar algumas de nossas mais festejadas equipes.
 
Se antes satisfazia (aos olhos de nossos treinadores e “especialistas”) a idéia de que pressionar significava simplesmente adiantar as linhas de marcação para “espremer” o adversário em seu campo de defesa e que bastava para isso um jogador definir o seu “par” a ser marcado, hoje estamos muito, mas muito distantes dessa visão simples, distorcida e vazia.
 
Antes de qualquer coisa, pressionar não significa necessariamente estar a tentar roubar a bola do adversário em seu campo de defesa (o mais próximo possível do seu gol). Não significa também uma ação em que necessariamente cada jogador precise definir o seu “par” a ser marcado e então acompanhá-lo até que a estratégia de roubar a bola tenha surtido efeito.
 
Pressionar não é somente uma forma de marcar; é, sim, uma forma de jogar. E aí, muitos são os conceitos presentes.
 
Para entender a “pressão” como elemento do sistema de jogo de futebol, necessitamos analisá-la sob a perspectiva de três variáveis que se auto-organizam e se auto-ajustam de forma interdependente: a variável espaço, a variável tempo e a variável referência.
 
A variável espaço refere-se ao ONDE (região, setor, zona) a pressão deve iniciar ou ser realizada. Na perspectiva dessa variável, uma equipe, ao optar pela “pressão” como componente do seu sistema defensivo poderá, por exemplo, fazê-la em linhas diferentes do campo de jogo (figura 1):
 
 
Quanto mais próxima da linha 1 a pressão é realizada, mais “alta” diz-se que a pressão está sendo feita.
 
A variável tempo diz respeito ao QUANDO (na transição defensiva, nas reposições de bola, nos passes para trás, etc.) deve se iniciar a pressão. Sob a perspectiva dessa variável, uma equipe pode optar por diferentes momentos para a realização da pressão. Equipes inglesas, italianas e algumas espanholas e argentinas, por exemplo, tendem a pressionar o adversário imediatamente ao início da transição defensiva. Outras, por exemplo, como algumas portuguesas, definem como estratégia iniciar a pressão quando a bola está de posse de determinado jogador.
 
A variável referência diz respeito ao O QUÊ (bola, adversário, setor) orientará as ações de pressão. Sob a perspectiva dessa variável, uma equipe precisa definir qual elemento do jogo orientará o posicionamento para que ela realize a pressão. Uma equipe, por exemplo, que marca em “zona” e tem o posicionamento da bola como referência (poderia ter a bola, o adversário, regiões fortes ou fracas, etc.) ao realizar pressão, poderá definir que o jogador que está com a bola deverá aos poucos ter seus espaços limitados, ao mesmo tempo em que tem suas linhas de passe fechadas (e somente a partir daí sofrer combate direto para retomada da posse da bola).
 
Muitos paradigmas envolvem a questão da “pressão”. Um deles é o de que ao se marcar por zona, torna-se inviável fazer pressão em linhas altas do campo de jogo. Outro é que inevitavelmente para se fazer pressão uma equipe que marca zonalmente passa a marcar individualmente.
 
Provavelmente seja o “desconhecimento” sobre a organização de um sistema de pressão o principal motivo para a sobrevivência de tais paradigmas e muito provavelmente pelo sucesso de algumas equipes quando fazem pressão e o insucesso de tantas outras.
 
Não era o Porto de Mourinho que marcava zonalmente e fazia pressão em linhas altas? Não era o Valencia de Rafa Benitez que também o fazia com grande eficiência e atropelava seus adversários?
 
Paradigmas, coincidências ou desconhecimento?
 
Certamente, muitas vezes deixamos de entender a vida que passa por nós pela nossa incapacidade de perceber que na verdade somos nós que passamos por ela.
 

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