Olá amigo, ainda que todos estejam na onda do clássico, não vamos fazer uma análise do jogo Ronaldo x Neymar, ops… Corinthians x Santos.
Uma semana de muita divulgação, de criação de expectativas e da individualização no chamado duelo de gerações. Que pesem os exageros para ambos os lados e a qualidade de tais jogadores, o jogo demonstrou em si, para a tristeza dos noticiários da semana (ou não), que não era restrito apenas ao combate entre Ronaldo e Neymar.
– Os técnicos
Na análise de hoje, vamos fazer uma avaliação da atuação deles! Os tão badalados e comentados… técnicos! Sim, isso mesmo. Normalmente, nos atentamos especificamente às ações do jogo que muitas vezes decorrem da ação dos técnicos, mas, no texto de hoje, mudamos um pouco foco, vamos analisar os técnicos do ponto de vista da conservação de idéias, da filosofia de jogo e da atuação do ponto de vista de intervenção na partida com base sempre nos dados, em nada mais.
Vamos focar no trabalho de Mano Menezes. Vagner Mancini, que cada vez mais ganha minha admiração, será tema de outro texto, em breve.
Mano Menezes tem seu trabalho reconhecido pelo que fez no Grêmio e no Corinthians, mas adquiriu um recente estigma de não ganhar clássicos em São Paulo. O treinador mostra que tem um planejamento bem elaborado, mas apresenta algumas dificuldades (normais no decorrer de uma temporada) que ganham proporções diferenciadas em se tratando de Corinthians.
Sabemos que clássico tem impactos diferentes e repercussões mais significativas. O próprio Mano reconheceu isso na última semana, mas resolvemos fazer uma análise simples, crua, apenas como curiosidade sobre a ação do Mano, do ponto de vista de substituições e relação com o tempo do jogo.
Consideramos os três clássicos (Santos, Palmeiras e São Paulo) e outros três jogos do paulista (Santo André, São Caetano e Marília), fazendo uma observação no tempo das substituições.
Realizando uma média simples (lembrando que média pode ser muito enganosa, como, por exemplo, a história de que se um amigo comer dois bifes e o outro nenhum, na média comem um bife cada, porém, um ficará obeso e outro desnutrido), mas vamos lá: Mano, nos clássicos, demora mais a fazer uma intervenção direta no jogo por meio de uma substituição.
Veja o quadro das substituições e do tempo (em média):
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1º substituição |
2º substituição |
3º substituição |
Clássicos |
57 min. |
72 min. |
79 min. |
Outros Jogos |
45 min. |
64 min. |
81 min. |
A primeira substituição nos clássicos demora mais e a segunda substituição tem um intervalo ligeiramente menor em relação à primeira, o que não acontece nos jogos contra os ditos pequenos.
Podemos questionar, indagar a validade da análise, a profundidade, e até mesmo a relevância para o jogo em si. Mas, o fato é que o Mano apresenta um padrão, uma filosofia de atuação e intervenção que apresenta diferenças entre um jogo “normal” e um clássico. Podem dizer os mais românticos que clássico é clássico e vice-versa. Enfim, é uma maneira de atuar do treinador, não queremos neste momento entrar no mérito.
No quesito qualidade das substituições, utilizamos o seguinte critério, avaliar a função do jogador que entrou em relação ao que saiu, resumindo as funções em zagueiro (englobando laterais), volantes, meias e atacantes. Definindo ainda como ação de recuo (entrada de um jogador mais defensivo em relação ao que saiu), manutenção (jogadores de mesma função) e avanço (entrada de jogador mais ofensivo).
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Recuo |
Manutenção |
Avanço |
Clássicos |
2 |
4 |
3 |
Outros Jogos |
4 |
1 |
4 |
Do ponto de vista comum, pode não representar muita coisa, mas à medida que um adversário, de posse dessas informações, aprofundando em volume de jogos, e, sobretudo, utilizando instrumentos mais adequados para a análise do que a simples média utilizada aqui, é possível antecipar algumas ações no jogo.
Ora, se consigo antecipar meu adversário, é uma vantagem que adquiro. E aqui vale uma explanação mais detalhada. Esse antecipar não significa agir antes do adversário no campo do jogo apenas, mas sim, antecipar estratégia, treiná-las, preparar os jogadores para possíveis alterações na dinâmica de jogo do seu adversário. Sim meus amigos, futebol é imprevisível, mas também é uma repetição em muitos momentos. Se consigo evitar me surpreender com o que já pode ser conhecido e antecipado do ponto de vista de treinamento, melhor. Não acham?
É nesse ponto que podemos transformar uma informação despretensiosa em intervenção estratégica. Assim como um nadador dá atenção a cada item que pode diminuir atrito e melhorar a flutuabilidade. Assim como o boxeador estuda a sequência de golpes predominantes de seu oponente, compreender que o técnico adversário apresenta um padrão de substituição (lógico que em situações especiais existe a exceção, a imprevisibilidade), é adquirir informação diferenciada a respeito do jogo.
Mas ressalto, se é possível antecipar no treinamento as eventuais alterações do adversário que interferem na dinâmica do jogo, a chance de ser surpreendido com algo conhecido é menor. Ainda que possamos lembrar de Garrincha que conseguia fazer o previsto ser imprevisto.
É um detalhe que se soma a outros, e pode trazer ou evitar outros detalhes como gol (detalhe difundido por Parreira, e muito mal compreendido pelos seus críticos).
Bom, existem muitos outros pontos para se estudar na atuação de um técnico, os quais traremos em breve, buscando o perfil de alguns treinadores para exemplificar como podemos utilizar a tecnologia da informação como aliada no estudo do adversário. E você o que acha?
Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br