Assim como em qualquer modalidade esportiva, a essência do futebol é a imprevisibilidade. Não saber previamente o resultado de uma disputa é algo que confere uma das maiores graças ao esporte. E, mais do que isso, no futebol, o imprevisto geralmente é maior ainda, permitindo a um time muito inferior a outro alcançar a vitória que parecia improvável.
No último sábado, tivemos dois exemplos de como o esporte depende da imprevisibilidade para se tornar atraente. Claramente, o interesse do torcedor aumenta conforme a incerteza que há sobre o resultado de uma partida.
Na Vila Belmiro, o time feminino do Santos foi a campo enfrentar o Caracas pela Copa Libertadores. Em menos de 20 minutos já vencia por 5 a 0. No final das contas, terminou o jogo com uma goleada por 11 a 0, a segunda com dois dígitos na competição e, como sempre, com um show de Marta, Cristiane e Cia.
No mesmo dia, só que um pouco mais tarde, o estádio Monumental de Nuñes, em Buenos Aires, foi o palco de um dramalhão argentino. Jogando a esperança de classificação para a Copa do Mundo, a seleção comandada por Diego Maradona ganhava no sufoco de um débil time do Peru. O 1 a 0 era sustentado pela fraqueza do adversário.
Aos 45 do segundo tempo, o Peru empatou a partida, em meio a um temporal que impedia até mesmo o torcedor em casa de conseguir ver alguma coisa na TV. O desespero bateu na porta argentina ao mesmo tempo em que o torcedor, de qualquer nação, não desgrudava os olhos da telinha. Três minutos depois, com mais de oito jogadores dentro da área, a Argentina conseguiu a vitória, num gol de oportunismo de Martin Palermo. O resultado devolvia aos hermanos uma condição favorável na tabela.
Na saída de bola, um jogador peruano deu um chute do meio de campo. A bola bateu no travessão argentino, lance suficiente para revirar do túmulo San Martin, um dos ícones do país.
Sim, é isso mesmo. Um jogo que foi 2 a 1 teve muito mais descrição e emoção do que aquele que foi 11 a 0. Assim como o time do Santos, a Argentina era muito melhor do que o seu adversário. Mas as circunstâncias da partida fizeram com que um jogo entrasse para a história, enquanto o outro será apenas “mais um”.
O futebol depende da imprevisibilidade. Desde o início sabia-se que o Santos seria arrasador nessa Copa Libertadores feminina. Mas qual é a graça de já se conhecer o campeão de véspera? Muito mais interessante, para todos, é ficar na poltrona até o final, hipnotizado por uma disputa sem qualquer prognóstico de quem vai vencer.
Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br