“Boato não é notícia”. Essa foi uma das primeiras lições que tive na Folha de S. Paulo assim que entrei na redação na famosa Alameda Barão de Limeira. Além do “na dúvida, não chute, cheque”, a Folha costuma ter como norma uma regra que deveria ser básica do jornalismo: notícia só é notícia quando é fato. Especulações, falatórios e afins não entram na lista do que pode ganhar manchete num veículo que pretende ser sério.
É por isso que, nesta época do ano, com o recesso dos principais campeonatos do país, sempre me pego lembrando essa norma da Folha. A quantidade de noticiário de que um jogador vai para um determinado lugar chega a ser entediante. Mas, pior do que a expectativa exacerbada que isso cria no torcedor, é o festival de desinformação que esse tipo de jornalismo tem.
Os meses de janeiro e julho se transformaram naqueles em que os agentes de atletas vivem os seus dias de glória. Geralmente sempre atuando ao largo da fama e estrelato de seu cliente, o “empresário” tem neste momento de entressafra da bola o seu grande palco, em que está livre para desfilar o maior número possível de balelas sobre seu jogador.
“Fulaninho tem interesse em jogar no São Paulo”. “Clube ainda quer meia e atacante, que podem ser Zidane e Romário”. “Melhor do mundo interessa ao campeão brasileiro”.
E por aí vai a série de asneiras que são publicadas em jornais, sites, rádios, televisões e qualquer meio de “informação” esportiva. Sim, isso mesmo. Informação entre aspas, porque o que menos se faz neste janeiro de negociações é informar.
Empresário, por essência, não pode ser fonte de informação. Sua frase sempre terá como objetivo promover o atleta. Seja forçar a barra para melhorar um contrato vigente, seja para buscar um novo (ou velho) clube para o jogador.
Só que é justamente o empresário a principal fonte de informação dos jornalistas. E aí é que se dá o grande enrosco para quem está em busca de notícia. Porque o clube, quando confrontado com a declaração do empresário, quase nunca o desmente. Faz parte da negociação o blefe. E, convenhamos, o clube também tem muito interesse em desviar o foco de uma empresa.
Para o cenário ficar completo, porém, tem-se a enorme dificuldade dos veículos de terem aumento ou mesmo manutenção de audiência numa época do ano em que, naturalmente, as pessoas tendem a desligar mais a TV, ouvir menos rádio, ler menos jornal, ligar menos a internet. Com tudo isso, o jornalista, obcecado pelos números de audiência, embarca numa canoa furada.
E a informação? Oras, para que perder tempo com ela, se uma simples especulação garante cliques, Ibopes, leitores…
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