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Quando olhamos para os maiores clubes de futebol no cenário nacional e internacional, encontramos um fator em comum nessa imensa maioria: o tamanho de sua tradição. Esses clubes são centenários (ou próximo disso) e construíram a sua imagem ao longo da história e títulos, conquistando torcedores que difundiram essa paixão às gerações seguintes através de seus filhos, netos, amigos e comunidade.

Como então construir um novo clube do zero, sabendo que a imensa maioria do público já possui um time de coração e que dependerá de um projeto de longo prazo para obter sucesso, admiração e fãs?

Trata-se de uma tarefa muito árdua e que possui uma possibilidade de fracasso enorme, pois estarão entrando em um mercado com custos altíssimos e com concorrentes que já possuem o respeito e a confiança dos investidores.

Esse é um motivo chave para olharmos com muita atenção ao atual líder da Bundesliga (Campeonato Alemão). O RB Leipzig é um clube criado em 2009 e que teve uma ascensão meteórica nesses 7 anos, subindo degraus da 5ª divisão alemã até chegar à 1ª divisão nessa temporada de 2016-17. Logo nesse primeiro ano, com mais de 1/3 do campeonato já disputado, o feito alcançado é admirável.

Apesar do nome oficial do clube ser RasenBallsport Leipzig, as iniciais RB são, na realidade, referentes à empresa Red Bull. Por critérios estabelecidos pela Federação Alemã de Futebol, os novos clubes não podem ter o nome de uma empresa patrocinadora como parte da sua identidade, por isso essa adequação. Porém, ao olhar para o escudo do clube, a relação com a marca torna-se explícita.

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Independente da opinião que cada um possa ter, o caso é muito interessante e emblemático. A começar pelo fato de ser o único clube a disputar a 1ª Divisão do Campeonato Alemão proveniente de uma cidade que fez parte da antiga República Democrática Alemã, pertencente ao bloco comunista. Essa dicotomia entre uma marca que representa o auge do capitalismo com um símbolo do comunismo não é um mero acaso, bem como a escolha direcionada para a cidade de Leipzig ser a sede do clube, uma vez que foi a partir de uma enorme manifestação ocorrida por lá que se deu o início da queda do Muro de Berlim.

O potencial de uma marca tão forte globalmente como a Red Bull é capaz de dar fôlego suficiente para um clube recém-criado enfrentar em pé de igualdade os gigantes tradicionais, porém a moeda também tem um outro lado. Há uma rejeição enorme na Alemanha pelo clube retratar o chamado futebol moderno movido ao dinheiro, onde o principal objetivo está em obter lucro e visibilidade para a marca, não em encantar os torcedores apaixonados. Uma série de campanhas são feitas pelos torcedores adversários a cada partida contra o RB Leipzig.

Ao mesmo tempo que é possível entender alguns motivos para a ira dos torcedores, vê-se também uma certa contradição. Uma empresa ser a proprietária de um clube não se trata de um caso genuíno na Alemanha. Clubes muito tradicionais como o Bayer Leverkusen e o Wolfsburg comprovam essa tese. O primeiro é propriedade da empresa farmacêutica Bayer e o segundo possui a empresa automobilística Volkswagen como sócia majoritária. Pela regra estatutária da Federação Alemã de Futebol, esses clubes podem manter essa associação por haver uma relação entre o clube e a investidora há mais de 50 anos.

A própria Red Bull possui outros 3 clubes de futebol espalhados pelo mundo. O Red Bull Salzburg na Áustria, país de origem da empresa e campeão por 7 vezes do campeonato nacional. O New York Red Bulls, estabelecido na maior cidade capitalista do mundo. E o Red Bull Brasil, sediado no interior de São Paulo e que também obteve êxito nas divisões de acesso até alcançar a 1ª Divisão do Campeonato Paulista.

Apesar da distância histórica entre o RB Leipzig com clubes como o Bayern de Munique, o formato de distribuição de cotas de TV equilibrado entre todos os clubes, torna mais viável que times menores consigam ser adversários mais difíceis de bater do que, por exemplo, na Liga Espanhola, onde há um completo monopólio entre o Real Madrid e o Barcelona, com os clubes menores dividindo migalhas do bolo. Enquanto que o campeão Bayern de Munique ganhou menos do dobro que o último colocado Augsburg na temporada 2014-15, na Espanha, Real Madrid e Barcelona receberam, cada um, sete vezes a mais do que Celta de Vigo e Osasuna.

Hoje ainda não conseguimos ter uma ideia clara dos benefícios e malefícios do case RB Leipzig para o mercado. Somente em alguns anos, quando adquirir um histórico capaz de ser considerado um clube com tradição, é que saberemos se surgiu para ficar e quebrar paradigmas ou tratou-se apenas de um voo temporário com prazo para terminar.

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