Não é fácil retirar fatos pré-concebidos na sociedade atual. Somos espelhos de vícios e jargões que devastam possibilidades evolutivas. Em qualquer área, os fatos prontos, feitos por medidas padrões, capacitam a cegueira e dificultam a abertura dos olhos.
E o que vem chamando atenção ultimamente é o termo intensidade. Intensidade, no olhar pragmático, conceitua-se pelo esforço físico dos jogadores, por correr, pressionar, apertar e chocar. Se os jogadores correm, são intensos e se não correm, não são.
Evidente que uma das facetas da intensidade é o esforço físico, mas só partindo por essa análise simplista, já levantamos três perguntas: de que forma esses esforços físicos são realizados anteriormente ao jogo nos treinamentos? De que forma serão realizados no jogo? Só pode ser intenso sem a bola?
Por essa via já temos muitas interrogações. E há muitas coisas que sobrepõem apenas o correr no conceito de intensidade.
Enxergar apenas no dia do jogo o conceito de intensidade, ou apenas nos trabalhos físicos isolados, podemos entrar numa limitação conceitual, pois esse conceito é muito rico e complexo.
Mudando a lente, olhando sistemicamente, qualquer exercício, com bola ou sem bola, qualquer interação no jogo pode ser intensa, pois carrega consigo uma intensidade relativa que engloba fatores específicos: forma de jogar, emocionais, cognitivos, decisionais, técnicos e físicos. Essa ideia sobrepõe a imagem de que o treino com intensidade é apenas físico e clarifica o poder da concentração específica.
Um elevado nível de performance necessita antes de qualquer coisa um elevado nível de concentração. Esse elevado nível de concentração, que busca sempre ser o máximo que é relativo, primeiramente é contextual a cada realidade, a cada equipe, a cada interação entre os jogadores intra-inter equipe e contra os adversários. Apenas com um nível alto de concentração, o jogador pode ser intenso realmente. Imaginemos um jogador que corre muito durante uma partida, se não estiver concentrado para correr no momento e para o lugar certo, não estará sendo intenso, apesar de parecer ser. Imaginamos uma equipe que usa a bola como instrumento de jogo, sua intensidade será diferente.
Afinal, a operacionalização dessa intensidade relativa deve estar entranhada na frase “se joga como se treina”. E todos os dias devem ser intensos, pois se escolhermos dias para treinar intensamente, poderemos não ter intensidade no jogo. Assim, o revestimento dessa intensidade em cada dia é que deve ser ajustado. Esse ajuste gera um impacto emocional que faz os jogadores se identificarem com todos os intervenientes dessa terminologia.
E, em cada dia os exercícios requerem níveis relativos cuja intensidade máxima e ideal para o desempenho seja coincidente com os requisitos do momento semanal, sendo que essa intensidade se refere a concentração individual, grupal, setorial, inter-setorial e coletiva, ou seja, um traço qualitativo-quantitativo de informações que um jogador/jogadores processarão durante um ciclo de treino/jogo originário de uma especificidade permanente.
Eu pergunto: quando o gajo vai marcar um pênalti, não é intenso? É por isso que eu chamo de intensidade máxima relativa: é sempre máxima, mas relativa em função da complexidade contextual. (Vitor Frade)
Mudamos nosso conceito de intensidade!
Abraços a todos e até a próxima quarta!