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Quando vou falar de formação, categoria de base, no futebol brasileiro procuro sempre contextualizar o ambiente sócio-cultural de hoje.
A pedagogia da rua que nos consagrou por anos e por Copas do Mundo a fio quase não existe mais. As dez mil horas, sempre aperfeiçoadas por novos estímulos que o ambiente lúdico proporcionava aos nossos garotos, ficaram restritas a alguns poucos campinhos. Se antes jogávamos dois contra três, mais novo e mais velho juntos, gol a gol, três dentro três fora, hoje jogamos vídeo game, vamos ao cinema, ficamos no celular ou simplesmente fazemos outra coisa em casa porque é mais seguro. Com isso, o funil ficou mais estreito. Não produzimos mais craques como antigamente.
O papel do formador, do técnico das categorias inferiores, ganhou então uma nova conotação. Sai o profissional que apenas deixava os talentos aflorarem e fazia poucas lapidações para entrar aquele que vai ensinar, doutrinar os jovens que demonstram boas aptidões técnicas, táticas, físicas e emocionais. Hoje há um processo muito mais longo para formar integralmente um jogador de futebol. Insisto que saíram as dez mil horas de prática da rua para a entrada de um “aprender a jogar” novo.
Quando falo em processo me refiro fundamentalmente a entregar ao profissional um atleta que tenha o maior número de conceitos possível. E esqueça qualquer tipo de engessamento. Pelo contrário. Me refiro a variedade de formas de jogar e funções desempenhadas na base para que no profissional esse atleta tenha uma maior capacidade para por si só tomar as melhores decisões que resolvam os problemas de jogo.
Por tudo isso, me incomoda ver um jogador de 17 anos subir ao profissional. Não me refiro a jogadores do calibre de um Neymar, de um Gabriel Jesus, etc. Esses têm uma capacidade superior que faz com que tomem as melhores decisões em qualquer ambiente. Mas a maioria não é assim.
Hoje um atleta que se destaque com 18 anos nem passa pela categoria sub-20. A ânsia estrutural dos nossos clubes faz com que ele seja içado ao profissional direto. Lá, na maioria das vezes, ele vai treinar ou no segundo ou no terceiro time, jogar alguns poucos minutos por semana e parar de receber novos conteúdos de treino já que ‘não dá tempo’. Se a condição emocional desse atleta não for boa ele já vai se sentir um jogador profissional e a ‘fome’ pode escassear. Se tiver então que ‘descer’ para a base, mais difícil ainda. O desânimo tomará conta. Em ambos os casos, perdemos o processo!
Precisamos entender o momento e termos um melhor processo de transição para nossos jovens. Muitos se perdem pelo caminho não por falta de qualidade. Mas sim para um ambiente que pressiona, suga e cospe fora em algumas poucas partidas.

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