Sinceramente, não lembro quantos textos já escrevi ou quantos comentários já fiz no rádio e na TV falando da mesma coisa: a crise no São Paulo. Perdi a conta porque foram muitos. A luta agora é buscar argumentos diferentes, fatos novos, sustentação mesmo, para fugir do achismo e buscar primeiro entender para depois explicar o que está acontecendo. Até porque tanto o sucesso como o fracasso deixam pistas e rastros e entende-los muitas vezes não é difícil. E é justamente esse o ponto: é fácil entender a areia movediça em que há anos o São Paulo patina. Está todo mundo vendo! Porém, é impressionante como o clube cada vez mais se afunda nela.
Um clube de futebol é sistêmico. O todo é maior do que a soma das partes. Por exemplo, um time forte não dará resultados consistentes a médio prazo se a parte administrativa não estiver bem. O ‘vice-versa’ também é verdadeiro: uma gestão sólida no comando diretivo, mas sem uma linha de trabalho bem alicerçada dentro de campo também não produzirá frutos. A questão no Tricolor é que nada funciona. Nem dentro e nem fora das quatro linhas. E em casos assim a mudança tem que partir de cima.
As picuinhas políticas e o arcaico modelo de eleição aniquilam a modernização tricolor. Não estou pedindo aqui que de uma hora para outra, o São Paulo tenha um dono, com ações na bolsa de valores. Até porque, por mais que eu sonhe que isso aconteça um dia aqui no futebol brasileiro, sei que os reais donos dos clubes, que não são empresários que visam a profissionalização e o honesto lucro com isso, vão largar o osso tão cedo. Mas o que vemos hoje no Morumbi é a política acima da performance. Cargos estratégicos, inclusive o do ídolo Raí, não me parecem ser escolhidos tendo a competência técnica como fator mais decisivo para contratação. É tudo político.
Diante desse quadro, como falar de uma filosofia de futebol? Como debater modelo de jogo baseado na história, nas conquistas, no perfil de expectativa da torcida, enfim, do DNA do clube dentro de campo, se fora dele a bagunça impera? Qualquer projeto bem sucedido em campo precisa de sequência, continuidade de ideias de jogo e metodologia de trabalho. Variando no estilo do treinador mais do que varia a estabilidade da economia brasileira fica difícil ter conquistas.
Em abril, o São Paulo será comandado pelo terceiro treinador no ano. O elenco já está sendo reformulado. Há quem aponte que as categorias de base do São Paulo funcionam, mas olhando o clube como um todo de nada adianta conquistar a Copa SP de Juniores se o time profissional não é abastecido por esses garotos formados em Cotia. Imagine o São Paulo na Pré-Libertadores deste ano tendo Eder Militão na linha defensiva e David Neres em uma das pontas?
Não sei se as linhas acima representam uma análise nova. Talvez o problema não seja nosso, de quem analisa. E sim de quem há dez anos vive uma crise inimaginável e parece não fazer nada para muda-la.