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A história do futebol feminino no Brasil foi revestida com os mais diversos desafios ao longo dos anos, e a prática do esporte no país carrega muita luta, perseverança, garra e, principalmente, vontade – vontade de crescer e de ter seu tão merecido reconhecimento, pois até pouco tempo atrás era dominado por homens.

Fazendo uma breve retrospectiva, a luta pelo respeito e reconhecimento sempre foi árdua: apenas na década de 20 houve os primeiros registros de partidas de futebol disputadas por mulheres, ainda que de maneira tímida e discreta. Por sinal, o futebol feminino era por vezes tratado como uma atração de circo, um show, e não algo a ser levado a sério.

Até a década de 40, o futebol feminino ainda estava longe de ser tratado com seriedade. A modalidade era considerada mais adequada para homens por ser considerada violenta e truculenta. Em 1941, a prática chegou a ser proibida pelo recém-criado Conselho Nacional de Desportos – CND.

Apenas na década de 70 foi revogada a proibição da prática do futebol por mulheres, mas a luta pela igualdade no esporte tinha novos desafios pela frente, a exemplo da falta de patrocínios e estímulos por parte dos clubes e das federações, o que mantinha a prática no amadorismo. Em 1983 o futebol feminino foi devidamente regulamentado, permitindo a criação de calendários esportivos, a realização de competições e a utilização dos estádios, que até então eram de uso apenas dos homens. No ano de 1988, a Fifa realizou, em caráter experimental, o primeiro campeonato mundial feminino, chamado Women’s Invitational Tournament e ocorrido na China.

As jogadoras brasileiras ainda enfrentavam muitos desafios. Para ilustrar, não havia uniforme especial para mulheres, que tiveram de jogar com as sobras das roupas do time masculino. Ao todo, 12 seleções participaram dessa edição, e, apesar das dificuldades, a seleção brasileira alcançou o impressionante 3º lugar.

A resposta a tantas adversidades e obstáculos era sempre vista dentro do campo: em 1996, nos Jogos Olímpicos de Atlanta as atletas conquistaram o 4º lugar; e, em 1999, veio a conquista da primeira medalha em Copa do Mundo, na edição dos EUA, quando a seleção feminina brasileira conquistou o 3º lugar, em um time composto por veteranas
e novas atletas que começavam a se formar.

A seleção brasileira conquistou a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 2004 na Grécia, com as jogadoras Pretinha, Marta, Formiga e Cristiane no elenco. Em 2006, mais uma conquista histórica para o futebol feminino brasileiro: Marta Vieira da Silva ganhou o prêmio de melhor do mundo, ao lado de Fabio Cannavaro na seleção italiana.

Em 2007, a seleção brasileira foi campeã dos jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, e em setembro do mesmo ano, as meninas se tornaram vice-campeãs da Copa do Mundo da China.

Com tantas conquistas, crescia a esperança no desenvolvimento do esporte, que até o momento não possuía competições nacionais organizadas. Isso mudou em 2013, quando a CBF, em parceria com a Caixa Econômica Federal, organizou a primeira edição do Campeonato Brasileiro feminino, com a participação das 20 melhores equipes nacionais. A fórmula da competição foi alterada em 2017, tendo reduzido a 1ª divisão para 16 times e foi criada a Série A2, também com 16 equipes.

O ano de 2019 foi um marco importante para o futebol feminino brasileiro, pois a CBF definiu a obrigatoriedade de todos os clubes da série A do Campeonato Brasileiro masculino a terem uma equipe feminina adulta e uma de base.

A medida faz parte do Licenciamento de Clubes, documento que regula a temporada de competições profissionais no país, e segue a orientação da Conmebol. Dessa forma, o clube que não atendesse a essa exigência estaria sujeito a ficar de fora das competições que exigem licença, como é o caso da Série A do Campeonato Brasileiro,
da Copa Sul-Americana e da Libertadores.

Neste contexto, vale ressaltar que o futebol feminino é uma das principais preocupações da FIFA, pois, conforme apontado pela Secretaria Geral, Fatma Samoura, “o jogo das mulheres é uma prioridade para a FIFA e, através da nossa nova estratégia, trabalharemos lado a lado com nossas 211 federações em todo o mundo para aumentar
a participação popular, aumentar o valor comercial do futebol feminino e fortalecer as estruturas da modalidade para garantir que tudo o que fazemos é sustentável e tem resultados fortes.”

De fato, é de extrema importância se atentar para a força do futebol feminino, sendo cristalino o potencial a ser explorado na prática do esporte, seja em relação à descoberta de novos talentos e valorização de atletas excepcionais, seja de resultados financeiros decorrentes de patrocínios, marketing, comercialização de produtos oficiais e afins.

Neste sentido, a FIFA afirmou que manterá o investimento de 1 bilhão de dólares no futebol feminino. Esse dinheiro vem do fundo de investimento da modalidade, que já tinha como objetivo o investimento em programas de capacitação, competições, governança e liderança dos times femininos e profissionalização das jogadoras.

No dia 17/07/2020, a CBF apresentou o calendário revisado para a temporada 2020/2021 das competições femininas, paralisadas desde março em virtude da pandemia do COVID-19. A Série A1 do Campeonato Brasileiro será reiniciada na próxima semana, no dia 26/08/2020, com três jogos, dentre eles o repeteco da final do

Campeonato Brasileiro de 2019 entre Corinthians e o atual campeão nacional, o Ferroviária.

Com a retomada dos campeonatos, torcemos para que esse movimento de incentivo à prática do futebol feminino no Brasil seja resgatado com força total. Nossas atletas merecem o reconhecimento recebido após tantos anos de luta e de dedicação das primeiras mulheres que, por amor ao esporte, ousaram enfrentar e vencer tantos preconceitos.

Sobre a autora 

Ana Beatriz Rausse de Almeida é advogada (consultora tributária), graduada em Direito pela Faculdade Milton Campos, graduanda em Ciências Contábeis pela Universidade FUMEC, e cursa MBA em Gestão Tributária na USP/ESALQ.

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