No início do mês de março, a federação carioca de futebol e os clubes se reuniram para discutir da volta dos torcedores aos estádios. Felizmente, a iniciativa não foi aprovada. O número de mortos deste então só aumenta, e o retorno do público para as arquibancadas poderia deixar a situação ainda pior. No entanto, o assunto tem sido levantado em outros países do mundo, seja em tom de esperança por estádios cheios ou de cautela. Esta coluna surge a partir disso para analisar o que clubes, federações e demais entidades precisarão considerar no momento de receber seus torcedores novamente.
É importante ressaltar que este não se trata de um texto fazendo campanha pelo público nos estádios, longe disso. O que busco aqui é debater os desafios que a indústria terá no retorno dos torcedores, enfrentando alguns destes de maneira inédita, em consequência de algumas mudanças no comportamento destes fãs.
O primeiro desafio é em relação à saúde. Por mais que a retomada aconteça com grande parte da população vacinada, alguns comportamentos adquiridos na pandemia irão permanecer na rotina de todos. Dentre estes, está o uso de novas formas de pagamento ou de acesso, que deixem as pessoas menos expostas a qualquer tipo de vírus. O dinheiro de papel, além dos ingressos físicos, deve estar com os dias contados, favorecendo a utilização de meios digitais que evitem ou diminuam ao máximo o contato. Trago aqui três exemplos de novos meios que ganharam força nos últimos meses:
Pagamentos pelo app: esse é o meio mais simples e já era utilizado anteriormente em diversos serviços, com o cliente realizando todo processo pelo aplicativo e apenas retirando o pedido na loja ou local onde o produto é feito.
Tecnologia de aproximação: o meio que ganhou mais força na pandemia. Segundo pesquisa do Itaú, divulgada em fevereiro de 2021, a quantidade de pagamentos realizados por aproximação, com soluções conhecidas pela sigla NFC (Near Field Communication), cresceu 326% em 2020. Esta forma de pagamento era vista em grandes festivais como o Rock in Rio, mas deve ser aprimorada para o retorno do público.
Reconhecimento facial: uma tecnologia mais avançada, mas que vem sendo testada em diversos países. A grande dificuldade seria em momentos de grande movimentação, onde um sistema novo poderia causar demora para entrar no estádio.
Outro aspecto que deverá ser observado está relacionado com as experiências para o torcedor no dia da partida. Essa tendência já era observada antes da pandemia, mas ganha importância uma vez que o público tem se acostumado com os pontos positivos que assistir ao jogo em casa traz: conforto, segurança e custos reduzidos. Por isso, as entidades esportivas terão que entregar experiências memoráveis ao fã, que o convença a voltar na semana seguinte.
Existem alguns pontos que, reunidos, podem favorecer a montagem destas ações que ficarão na memória dos torcedores. Pensando no cenário brasileiro, o mais importante a ser trabalhado é a conexão de internet nos estádios, permitindo que alguns hábitos adquiridos em casa possam ser mantidos diretamente do palco do jogo. Segundo o relatório The Future of the Sports Fan, 3 em cada 4 torcedores postam em suas redes sociais enquanto estão vendo a partida. Além disso, 75% destes costumam olhar o replay das jogadas mesmo estando presente na arquibancada. Como fazer isso sem uma boa conexão?
A maioria das iniciativas anteriores devem ser executadas pelos clubes. No entanto, cabe a CBF decidir quando será permitido que torcedores ocupem as arquibancadas em partidas de seus campeonatos, e em que quantidade. Para isso, a confederação brasileira possui uma vantagem que não deve ser comemorada. Por estarem em melhores situações sanitárias, muitos países devem abrir seus estádios ao público antes do Brasil. Aqui será possível entender as melhores práticas adotadas em outros cenários e aplicá-las a nossa realidade.
Para citar outros grandes centros, a UEFA já pensa em receber torcedores durante a Eurocopa, marcada para iniciar dia 11 de junho. As ligas nacionais mais otimistas são da Espanha e Itália, onde se fala em abrir as arquibancadas, ainda que para um público reduzido, no final desta temporada. Já a Alemanha adota um discurso mais cauteloso, visando ter público nos estádios apenas na próxima temporada, no final do mês de julho.
Como foi visto ao longo do texto, a tecnologia terá papel fundamental no retorno do público aos estádios. Enquanto esse momento não chega, clubes devem aproveitar para estudar as ferramentas necessárias para garantir segurança e experiências memoráveis aos fãs, que aguardam ansiosamente sua hora de voltar para as arquibancadas.