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Crédito imagem – Jogos estudantis da Bahia/Divulgação

No texto da semana passada escrevi uma frase, que se não lembrar de nada dele, lembre-se disso: todos podem ser felizes jogando futebol. Esta frase refere-se à vasta possibilidade de o futebol incluir as pessoas, de diferentes características, de forma funcional ao jogo, proporcionando prazer em jogar e se sentir parte de um grupo. Nesta semana, vamos utilizar esse mesmo raciocínio, mas buscando avançar ainda mais. Para além da natureza do jogo, vamos abordar a capacidade de um(a) professor(a) ou treinador(a) de incluir todas e todos do seu grupo, de maneira funcional, nas suas aulas ou treinos.

Não é raro, em escolas de futebol, encontrarmos turmas heterogêneas, em que convivem meninos e meninas, alguns mais habilidosos, outros menos, outras gordinhas, magrinhas, altos, baixas, de famílias com maior poder aquisitivo, outras de menor, de diferentes culturas, origens, credos etc. Os professores e professoras dessas escolas recebem tamanha diversidade para dar sua aula ou treino de 1h a 2h, aproximadamente, tendo ainda o desafio de fazer com que todos participem plenamente.

Se trocarmos o foco das escolas de futebol e formos para as aulas de educação física escolar ou para os projetos sociais, encontraremos o mesmo cenário de diversidade. Diante dessa realidade, temos ao menos duas posturas opostas. A primeira do(a) professor(a) que não acredita que todos têm a capacidade e o direito de aprender futebol (ou qualquer modalidade esportiva). E a segunda em que o(a) professor(a) não só acredita que todos têm a capacidade e o direito de aprender futebol, mas também encara como o seu dever fazer com que todos se insiram plenamente na aula, sendo estimulados a se desenvolverem de maneira equivalente.

Quando o(a) profissional escolhe o primeiro caminho, subjetivamente ou declaradamente, separa a turma entre os seus preferidos, aqueles com maiores conhecimentos prévios para a prática do futebol, e o restante da turma, que recebe o papel de coadjuvantes naquele ambiente de aprendizagem. A consequência dessa escolha é uma menor quantidade e qualidade de estímulos e feedbacks de apoio, instrução ou correção àqueles do grupo preterido. Essa postura, certamente, prejudicará a potencialidade desse grupo de se desenvolver com as aulas ou treinos, tanto para o futebol, quanto para a vida fora dele. Ela pode ter impactos negativos sérios para essas crianças e adolescentes, já que se sentirão menos capazes, rejeitados e desrespeitados. Por outro lado, esse(a) profissional, ao olhar apenas para o grupo de alunos(as) “talentosos(as)”, pode sobrecarregá-los(as) com uma carga excessiva de cobrança por desempenho, ignorando uma série de outros conteúdos importantes para a formação humana integral.

No entanto, se o(a) professor(a) decidir pelo segundo caminho, possivelmente ele(a) terá mais trabalho e terá que ser um(a) melhor profissional, pois olhará para todos igualmente, cada um com suas potencialidades e limitações, sempre buscando dar os estímulos e feedbacks necessários para que todos consigam se desenvolver. Essa é postura que busco aplicar em minhas aulas e treinos. Ao lado do Princípio Pedagógico de “ensinar a gostar de futebol”, discorrido na semana passada, há outro de “ensinar futebol a todos”*, que ecoa em minha consciência sempre que me levanto para trabalhar.

Desafio aceito! Quero ensinar futebol a todas e todos! Mas e agora? Que estratégias posso utilizar para conseguir fazer com que as diferenças sejam aceitas e complementares ao ambiente de aprendizagem de minha aula ou treino? O pilar básico que tento construir é criar uma cultura de colaboração e respeito às diferenças. Isso será importante para todas as atividades e para a vida das crianças e adolescentes. Vivemos em uma sociedade diversa. Se os meus alunos e alunas aprenderem a respeitar essa diversidade dentro do nosso ambiente de aprendizagem, eles e elas terão mais condições de transferir esse comportamento para além desse ambiente. Essa cultura, para ser fortalecida, deve ser alimentada em todas as oportunidades, com o diálogo e atitudes que demonstrem a importância de se respeitar o outro com as características que tiver, da mesma forma como os outros devem respeito a você, com as características que que lhe são próprias. 

Em paralelo a essa intervenção mais direta ao objetivo da inclusão e respeito às diferenças, existem outras estratégias eficazes para se garantir que todos(as) os(as) alunos(as) recebam estímulos adequados aos seus respectivos desenvolvimentos. Um dos caminhos pedagógicos interessantes para isso é dar problemas possíveis de serem solucionados por eles. Costuma funcionar fazer com que a criança sinta, rapidamente, que é capaz de fazer coisas que não sabia que era. Desta forma, ela aprende a sensação de sucesso relacionada ao futebol. No entanto, sabemos que o esporte não se faz apenas de experiências de sucesso. Nem toda hora ela irá conseguir alcançar o objetivo traçado. Há tarefas que são mais desafiadoras, ou mesmo em atividades competitivas, ela pode perder para a outra equipe ou criança adversária. O que fazer para a criança não perder o seu interesse em continuar naquele ambiente de aprendizagem, mesmo quando se depara com derrotas e fracassos?

É preciso que ao longo da aula ou treino haja uma enorme possibilidade e variedade de sucesso. Jogos e brincadeiras variadas, individuais e coletivas, com diferentes objetivos e funções para ela exercer, com revezamento de funções, demandas motoras etc. Enfim, são estratégias necessárias para que todos vivenciem diversas experiências, entre elas algumas exitosas, outras não. Essa pluralidade de experiências lúdicas facilita à criança e ao adolescente se inserirem de maneira funcional no ambiente de aprendizagem. Além de promover um fator determinante para a aprendizagem, que é o volume de repetições de movimentos em contextos variados, você também estará proporcionando, se trabalhar com jogos e brincadeiras, a experiência de aprendizagem integral à criança e ao adolescente, que irão lidar com as emoções, com situações-problemas, com as relações interpessoais etc.

Soluções para superar o problema de incluir a todas e todos na aula ou treino não faltam. Você deve saber várias delas, se compartilha desse mesmo princípio pedagógico. Portanto, é uma questão de querer, se preparar e exercer o direito de todos(as) os(as) alunos(as) e atletas de participarem plenamente do ambiente de aprendizagem liderado por você. Mas antes de encerrar este texto, gostaria de deixar a seguinte reflexão: o Princípio Pedagógico de “ensinar futebol a todos” se aplica apenas às turmas de iniciação que normalmente há grupos heterogêneos? Em categorias de base também não há diversidade? Como proporcionar que todos se sintam parte importante do grupo em uma equipe principal do futebol de alto rendimento? Quais são as estratégias para esses ambientes?

Penso que esse princípio pedagógico deve ecoar na consciência de todos os educadores que levantam para trabalham com futebol! Qual a sua opinião?

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