Ah, é o Edmundo!

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Em um ano, de 1992 a 1993, ele saiu da reserva do time sub-20 do Vasco para ser a maior estrela contratada pela via láctea que a Parmalat montou no Palmeiras. Foi campeão do Rio e tirou da fila de 16 anos o novo clube na nova cidade que o acolheu aos berros de “animal” e onde viveu dias e noites de amor incondicional ou ódio amplo, geral e irrestrito das arquibancadas, tribunas e gerais.

Ele pisou muito na bola que tratou como poucos nos últimos 20 anos. Ele desandou demais fora dos campos do Brasil e Itália. No gramado, se não tivesse a excepcional técnica, ainda poderia ser um grande jogador por ter nascido um atleta forte, resistente e veloz, imune à dor e as pancadas. Por ter nascido um sujeito que saía da balada para o treino como se não houvesse amanhã. Ou como se tudo fosse uma longa noite de prazeres e poderes.

Ele foi capaz de transformar um centímetro quadrado num latifúndio redondo pelo repertório impressionante de dribles. Como é capaz de ser constrangedoramente simpático e simples na maior parte do tempo e, num mau dia, driblar quem ficar pelo caminho. Fazendo jus ao animal que ficou como elogio esportivo e como elegia de vida.

Bacalhau ou animal, genial e genioso, ele é um dos maiores ídolos e craques do Vasco e também do Palmeiras. Em São Januário cresceu como menino que ama a mãe de berço. No Palestra, conheceu a paixão de adulto pela amada. Para ele, a mãe uma ou outra vez o traiu; a paixão adulta, jamais. É um coração onde cabem Vasco e Palmeiras num peito que já vestiu Flamengo e Corinthians. E Santos. E Cruzeiro. E Fluminense. E Fiorentina e Napoli. E Tokyo Verdy e Urawa Red. E Nova Iguaçu e Figueirense. Até terminar no Vasco onde começou profissional. Onde hoje se despede com um físico e um futebol que poderiam ainda encantar.

Fez bobagens. Muitas. Casos de polícia. Coisas de uma vida difícil, com problemas em casa – como muitos. Mas com um talento para driblar em campo e fora dele – como poucos. Casos de quem foi ensinado a jogar futebol. Mas não a ser adulto. Como ele aprendeu apanhando e batendo. Na mesma proporção.

Tem muita gente que o detesta tanto quanto está odiando este texto. Se eu não torcesse pelo time que torço, se eu não gostasse de um atacante talentoso, se não tivesse um interesse por personalidades do tipo, se não o conhecesse há quase 20 anos, se não trabalhasse com ele há dois anos, talvez não estivesse escrevendo tudo isso. Talvez estivesse dando razão aos que não vêm razão para tanta festa e elogios.

Mas quem torceu pelo Animal, quem conheceu um pouco do cara fora de campo e dos problemas que ele criou, sabe que existe um cara que merece a festa que recebe do Vasco e que também merecia do Palmeiras. Sabe que errar fica mais humano com Edmundo.

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

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