Detecção de Talentos – Parte II

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Olá, leitor!

No texto anterior introduzi o tema que dá título à coluna, detecção de talentos, trazendo uma visão geral de como este processo normalmente ocorre em nosso país. Como mencionado anteriormente, são diversas as oportunidades de avaliação – observadores técnicos pelo Brasil a fora, competições, avaliações internas e externas, etc. – porém, é baixa a demanda de vagas – são muitos candidatos para poucas vagas, visto que nem todos os clubes possuem categorias de base e nem todos possuem as categorias menores (sub-11 e sub-13) – sendo assim, este processo de detecção pede muito rigor e reflexão.

Dado este cenário, num primeiro momento, pode até parecer simples o trabalho daqueles que avaliam os candidatos, dentre os muitos meninos que desejam ingressar nos clubes, basta colocar pra jogar e selecionar os melhores. Mas, o que quer dizer esse “melhores”?

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Vejamos um exemplo de uma das atividades que tenho utilizado nos últimos anos, nas avaliações que ministrei para jogadores das categorias sub-10 a sub-15:

Uma atividade de confrontos aleatórios em igualdade, inferioridade e superioridade numérica, o treinador dá um sinal e indica a quantidade de jogadores por rodada, estes partem para a disputa da bola, quem vencer a disputa ganha o direito de tentar fazer o gol, quem perde a disputa tenta proteger o alvo, a rodada termina quando ocorrer o gol ou o desarme por parte do defensor, ou após um limite de tempo pré-estabelecido. Dinâmica simples, onde se pode avaliar técnica de drible, passe, domínio, finalização e desarmes, todas competências que um jogador deve executar bem, e que com certeza são levadas em consideração nesta atividade. Porém, será que são somente estas as competências possíveis a se avaliar?

No desenrolar desta atividade, além das competências mencionadas, busco observar também alguns pontos que julgo extremamente importantes, dentre eles, a coragem. E como avalio isso? Basicamente observo quais jogadores, após a primeira dividida pela bola, continuam acelerando ao máximo para a disputa da mesma em todas as oportunidades, e quais jogadores desaceleram ou já adotam uma postura defensiva no intuito de evitar o choque da dividida. Que jogadores continuam tendo uma postura ofensiva, em vencer a disputa para fazer o gol. Será esse um critério e um olhar interessante para a análise? Podemos ainda notar um jogador que busca criar linhas de passe e desmarcar-se quando está sem bola, ou um que consegue ser muito produtivo dando somente um toque na bola, etc. Não seriam estes aspectos a se levar em consideração? Imagine que você trabalha em um clube que é historicamente reconhecido pela raça, por ter equipes vitoriosas que foram muito aguerridas, não seria então a coragem uma determinante característica a ser levada em conta para a toma de decisão?

O que estamos observando no jogar de nossos jogadores? Somente os momentos em que estes detêm a bola são determinantes nas avaliações? Outro ponto que julgo extremamente importante e determinante quando avalio jogadores, é a progressão de entendimento que estes apresentam. Numa avaliação, seja ela de um dia ou de uma semana, busco criar atividade de treino que sejam gradativas em complexidade, e assim, ter alguns subsídios para analisar a capacidade de adaptação dos jogadores, o potencial de entendimento e evolução que apresentam. O que é mais vantajoso, captar jogadores que possam resolver hoje os problemas da categoria (ex: jogadores muito maturados que resolvem os problemas só com a força) ou jogadores que demonstrem alta capacidade de adaptação e compreensão às necessidades do jogo? Quem conseguirá evoluir mais e passar por todo o processo da base? Nesse sentido, trago um exemplo de algumas das experiências práticas que vivi.

globoesporte.com
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Lucas Lima e Fabinho |Reprodução
Lucas Lima e Fabinho |Reprodução

 

Tive a oportunidade de vivenciar a formação destes dois jogadores, Fabinho – com quem pude trabalhar – e Lucas Lima – a quem pude enfrentar – ambos campeões nos clubes onde jogam, de reconhecido valor no âmbito nacional e internacional, Fabinho ainda tendo sido eleito um dos melhores jogadores da última edição da UEFA Champions League. O que tem em comum? Na infância e adolescência, não passaram pela base de nenhum dos grandes clubes do futebol brasileiro. Lucas Lima passou por diversos clubes do interior de São Paulo, e Fabinho fez toda a sua formação de base no modesto Paulínia Futebol Clube (coordenado metodologicamente pelo Prof. Dr. Alcides Scaglia) antes de ir para o juniores do Fluminense. Mesmo assim alcançaram o sucesso no futebol, chegando até a Seleção Brasileira. Como estes reconhecidos jogadores não foram selecionados por nenhum dos grandes clubes do Brasil?

Captar jogadores é muito mais do que simplesmente “olhar a parte técnica”, analisar se ele tem “um bom biotipo”, ou se tem “faro de gol”, o jogador é um personagem complexo, que depende de várias competências para obter sucesso, olhá-lo de forma simplista, minimalista, não dando a devida atenção a aspectos importantes, como sua parte cognitiva e emocional, podem acarretar em erros de tomada de decisão que irão onerar o clube e gerar frustrações desnecessárias. É claro que os erros irão acontecer, todo ser humano é passível de erro, o que proponho é que se observem os jogadores em sua totalidade, no que podem vir a se tornar (quando bem estimulados), e não somente no momento em questão, que se criem parâmetros para avaliar isso, não tenho dúvidas que poderemos assim, qualificar ainda mais o nível dos jogadores que atuam em nosso futebol e minimizar os erros nesse complexo processo de detecção de talentos.

Até a próxima!

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