Domingo sem futebol

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A paralisação da Série A em datas Fifa foi uma das principais novidades da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para o Campeonato Brasileiro em 2016. A coincidência não atrapalhava apenas o nível competitivo do principal torneio nacional, que tinha rodadas esvaziadas por jogos das seleções, mas criava pesadelos logísticos e de promoção para os clubes. Sem o conflito, contudo, o último fim de semana expôs um problema grave da realidade local: não há qualquer planejamento para preencher essa lacuna.

Sim, o fim de jogos do Campeonato Brasileiro em datas Fifa é uma evolução. Sim, é preciso ter um calendário que canibalize menos o talento e que ofereça espaços maiores. Sim, hiatos mais longos podem ser benéficos para a promoção de um evento. A questão toda é que o Campeonato Brasileiro não se preparou para isso.

Se houvesse uma preparação adequada, a CBF teria criado conteúdo para ocupar o noticiário no último fim de semana. Teria preparado compactos, produtos ou reempacotamentos que pudessem ser consumidos pela população que foi doutrinada durante anos a entender que essa é a data para ver futebol.

A audiência do futebol em TV aberta nas tardes de domingo, por exemplo, representa média superior a 20 pontos no Ibope. Cada ponto significa 69,4 mil residências sintonizadas na Grande São Paulo, região que é referência para o mercado publicitário, o que compõe um total de 1388000 de casas com a televisão ligada num jogo apenas naquela área. O interesse decaiu e a audiência do futebol foi reduzida nos últimos anos, é verdade, mas o produto não deixou de ser relevante.

Quer mais uma demonstração de que existe um público interessado em futebol? Os canais esportivos de rede fechada no Brasil passaram por uma transformação e por uma consequente pasteurização nos últimos anos. Em busca de um número cada vez maior de assinantes, todos encheram a grade de programas de debate sobre futebol, análises sobre futebol, reportagens sobre futebol e jogos de futebol.

O modelo adotado pelos canais fechados é questionável, mas apenas reforça a ideia de que existe um público ávido por consumir futebol. Há pessoas interessadas e há espaço no mercado para a consolidação de um grupo de consumidores. Quando simplesmente fecha as portas em datas Fifa, porém, a CBF deixa de explorar todo esse potencial.

Porque fechar as portas foi praticamente o que a CBF fez no último fim de semana. Houve duas partidas da Série A e rodada cheia da segunda divisão, é verdade, mas a entidade não aproveitou a lacuna criada na data Fifa. Em vez disso, permitiu um fim de semana de pasmaceira e sem conteúdo.

Se houvesse um plano de comunicação adequado, a CBF teria criado produtos ou conteúdos que poderiam ocupar a mídia nos espaços criados pela data Fifa. Além disso, teria planejado essa exposição para valorizar parceiros que têm pouco espaço no restante do ano.

A seleção brasileira jogou na quinta-feira e voltará a campo na terça. Esse hiato poderia servir para as pessoas conhecerem mais sobre o Campeonato Brasileiro ou para a CBF aproveitar para comunicar de forma estratégica algum assunto negligenciado no restante da temporada.

Espaços servem para isso, afinal. Hiatos servem para isso. Comunicação também é pensar em como aproveitar períodos sem jogos e não apoiar suas apostas apenas no evento. O que a CBF faz é usar apenas o potencial das partidas, que não depende de qualquer esforço de promoção.

Parar o Campeonato Brasileiro em datas Fifa foi uma medida importante para criar um futebol brasileiro melhor. Se esse espaço não for bem aproveitado, no entanto, o ganho proporcionado pela medida será sempre subdimensionado.

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