Um dos assuntos que mais tem norteado discussões e dúvidas no mercado do futebol europeu possui relação direta com o “Fair Play Financeiro” instituído pela Uefa. O projeto obriga os clubes filiados a seguirem determinados padrões de contabilidade e saúde financeira de maneira perene.
O processo teve início em 2009 e desde então os clubes vêm recebendo orientações de conduta sobre suas finanças, sendo que as mesmas seguem sob vigilância até a temporada 2013/14 para, a partir daí, serem aplicadas sanções legais e/ou esportivas àqueles clubes que não cumprirem alguns preceitos.
A ideia é buscar o saneamento financeiro dos clubes, obedecendo a regras de governança corporativa alinhadas com sua capacidade de pagamento e endividamento. A proposta é que não se contraia mais débitos que receitas no conjunto de três temporadas consecutivas*.
O exemplo europeu deveria ser modelo para voltarmos à carga uma discussão séria sobre as dívidas dos clubes brasileiros, que são tratadas como algo “absolutamente normal” pelo discurso e percepção dos dirigentes esportivos do país.
Aproveitando a onda dos megaeventos e a clemência por mais profissionalismo no esporte do Brasil, parece um excelente momento para levantar a bandeira de uma discussão séria sobre o assunto. E, ao contrário do que já se tentou anteriormente, que seria a pseudo responsabilização dos dirigentes pelo endividamento dos clubes (que, no final das contas, se protegem em cima de medidas cautelares e sob a guarda de outros aparatos de nosso moroso sistema judiciário), as medidas, tal e qual hão de acontecer na Europa, devem necessariamente passar por sanções esportivas.
Só a perda de pontos, o rebaixamento, a proibição de contratação de jogadores, a suspensão em campeonatos e outras soluções neste nível é que podem resultar em atitudes diferentes em relação à gestão de clubes de futebol no Brasil. Somente esta linguagem é compreensível para a opinião pública de uma maneira geral.
Enfim, o momento é mais do que oportuno para que as instituições do futebol atuem, pelo seu próprio bem, como entidades sociais que são. E que medidas sérias possam surgir, acompanhando a tendência regulatória proposta pela Uefa.
* Para mais informações sobre este movimento, recomendo acesso ao site Futebol Finance, parceiro da Universidade do Futebol:
http://www.futebolfinance.com/financial-fair-play-novas-regras-para-os-clubes-europeus
http://www.futebolfinance.com/modelo-de-fiscalizacao-e-controle-das-financas-dos-clubes
Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br