Fatores da derrota

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Muitos de nós que estudamos e trabalhamos com o esporte, em algum momento de nossa jornada, já ouvimos, desconfiamos e/ou concordamos, que o desempenho esportivo depende de muitos fatores (ao mesmo tempo!).

Esses fatores interagem entre si, e dependem, com mais, ou com menos força, uns dos outros.

No futebol, no entanto, quando se ganha, ou quando se perde (ainda que exista consenso sobre a “multivariedade” de fatores que estão ligados ao desempenho final de uma equipe), a tendência rotineira é de que as explicações para uma vitória ou uma derrota sejam “unifatoriais”.

Em outras palavras, quero dizer que existe uma força quase incontrolável no futebol, que gera uma necessidade de se atribuir relações simples e diretas de causa-efeito, para explicar coisas complexas, de maneira que heróis e vilões são construídos e desmanchados de um jogo a outro.

Ora, se a preparação e o desempenho competitivo de um futebolista dependem de um emaranhado de fatores, isolar causas, perdendo a visão de todo um contexto global-integral para justificar resultados, significa dar ao acaso, qualquer possibilidade de prever, dimensionar e controlar os “efeitos”.

Se em uma equipe de futebol, o objetivo de seus gestores é conseguir fazer com que o todo (a equipe), seja maior que a soma das partes (os jogadores), sem perder de vista as particularidades dessas partes, e ao mesmo tempo propiciar que elas (as partes), tenham seus desempenhos potencializados pelo todo, como conseguir concretamente que a performance coletiva de uma equipe melhore ao ponto de se conseguir vitórias e conquistas?

Ainda que o que vou escrever agora possa soar “simplista” ou cartesiano (e eu adianto e garanto, não é nada simplista, e muito menos cartesiano), com os óculos certos poderemos ver a imagem que quero desenhar. Se tomarmos o conceito de “inteligência” como algo dinâmico, vivo, circunstancial, e se aceitarmos que em um jogo de futebol ela se manifesta individual e coletivamente; vencerá jogos aquela equipe que for mais inteligente!

Então, respondendo a pergunta que antecedeu o último parágrafo, para conseguir concretamente que a performance coletiva de uma equipe melhore, ao ponto de conquistar vitórias, precisamos torná-la mais inteligente para jogar.

Não vou entrar no mérito de uma saudável discussão sobre questões que envolvem o conceito de inteligência. Isso já foi imensamente discutido por mim em outro fórum.

Quero aqui apenas salientar que se assumirmos que dentro de um jogo de futebol, a cada fração de segundo, novas circunstâncias se desenham, e propõem dinamicamente novos problemas para que jogadores e equipe os resolvam com urgência, dar solução à eles significa estar apto, integralmente (fisicamente, mentalmente, tecnicamente, taticamente, etc.), para agir da melhor maneira possível.

E agir da melhor maneira possível é a expressão de uma inteligência circunstancial de jogo, individual e coletiva.

Essa inteligência, dentro do contexto de jogo, se manifestará muitas vezes em situações extremamente emergenciais, onde o hiato entre o pensar e o agir praticamente desaparece, e a intenção se tornará a principal norteadora da ação.

A construção de uma equipe vencedora passa, então, pela intencionalidade vencedora dos elementos que através de suas interações a compõe.

E o que isso significa? Significa que se o desempenho esportivo é multifatorial, talvez seja o ponto de partida para o entendimento dos motivos que levam a vitória ou a derrota, a compreensão sobre o conceito de intencionalidade.

Claro, não quero reduzir a ideia de intencionalidade, ao vencer ou perder no jogo de futebol. Muito longe disso! Mas entendê-la melhor (a ideia a respeito de intencionalidade), pode ajudar a enxergar o processo de preparação do “ser humano futebolista”, e especialmente possibilitar aos gestores de uma equipe (diretores técnicos, gerentes de futebol, coordenadores, treinadores, etc.) a perceber as pequenas sutis questões do processo que eu chamarei de pedagógicas (porque todas são), que podem fazer toda diferença!

Aí, quem sabe, grandes quedas possam ser evitadas, e turbulências, mesmo quando forem inevitáveis, recebam atenção prévia de um planejamento que permita ao voo seguir em frente…

Para fechar esta semana, um texto que já utilizei em algum outro momento do passado, mas que dada minha indignação com as “palhaçadas” que acontecem no Brasil, e que especialmente afloram em época de eleições, acho que cabe novamente.

Escrito por Elisa Lucinda, e declamado por Ana Carolina, segue a composição “Só de sacanagem”:

“Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar: malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, do nosso dinheiro que reservamos duramente pra educar os meninos mais pobres que nós, pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais.
Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem pra aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração tá no escuro.
A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam:
– Não roubarás!
– Devolva o lápis do coleguinha!
– Esse apontador não é seu, minha filha!
Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar. Até habeas-corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar, e sobre o qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda eu vou ficar. Só de sacanagem!
Dirão:
– Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba.
E eu vou dizer:
– Não importa! Será esse o meu carnaval. Vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos. Vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau.
Dirão:
– É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal.
E eu direi:
-Não admito! Minha esperança é imortal!
E eu repito, ouviram?
IMORTAL!!!
Sei que não dá pra mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dar pra mudar o final”.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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