Futebol: a abordagem sistêmica, o reducionismo camuflado, e claro, a Lógica do Jogo!

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A disseminação do conhecimento técnico específico no futebol alcança, a cada dia, maiores magnitudes e atinge, cada vez mais, um número maior de profissionais.

A vasta quantidade de informações disponíveis e organizadas permite uma qualificação maior daqueles envolvidos diretamente com o “campo”.

E se por um lado essa disponibilidade (de informações) tem contribuído, de certa forma, com a evolução do jogo de futebol, por outro acaba gerando, também de certa forma, uma visão distorcida sobre o próprio conhecimento, que tem resultado no que eu chamo da “hipervalorização do um fator”.

O pensamento sistêmico e as teorias da complexidade buscam compreender os fenômenos, sejam eles quais forem, a partir das interações, inter-relações e interdependências dos seus elementos (elementos dos fenômenos).

Isso quer dizer que em ambientes complexos, perde-se espaço a interpretação de eventos a partir de uma linearidade de causa-efeito, e passa à frente a tentativa de entendimento sobre a conexão entre todas as coisas (sobre todos os elementos constituintes dos eventos).

O futebol é um ambiente complexo.

O jogo de futebol é um universo de complexidade.

Quando buscamos explicações para ocorrências de uma partida, quando buscamos explicações para vitórias e/ou derrotas, o mais importante é que não percamos de vista a ideia de complexidade.

Mesmo assim, não é incomum (pelo contrário), atraídos pelo desejo de dar vida concreta e respaldo à visões particulares sobre o jogo, que mesmo sem querer, haja uma simplificação, que condiciona as explicações à uma redução dos fatos.

Por vezes essa simplificação/redução é obviamente cartesiana. Por vezes, ela é um cartesianismo camuflado pelo discurso de uma pensamento sistêmico. E é aí que a “hipervalorização do um fator” se aplica.

Creio, seja conhecimento e consenso de todos que vêm estudando mais pontualmente o futebol e complexidade, que tenha grande significado, simbolismo e importância a frase do professor e filósofo português Manuel Sérgio que diz que para “saber de futebol, é preciso saber mais do que futebol”.

Pois bem.

O futebol vem sofrendo transformações. No Brasil, há um grande e importante movimento em curso, rompendo com paradigmas bem enraizados – o que tem contribuído e muito para boas mudanças.

Esse movimento tem tentado explorar a complexidade sistêmica, tanto para explicar o jogo propriamente dito, quanto para aperfeiçoar o jogar, de jogadores e equipes.

Mas, se olharmos para o jogo, para o jogar, para os jogadores e para as equipes, e sob a justificativa de argumentos inerentes à complexidade, continuarmos pautando explicações sobre fenômenos, valorizando a variável “X” ou o conhecimento “A, Y ou Z”, e minimizando/desvalorizando qualquer outra coisa que se relacione, ou possa se relacionar com o jogo, não estaremos aplicando o pensamento sistêmico!

O que estaremos fazendo é camuflar o reducionismo com uma aparência de complexidade.

Por mais que precisemos de argumentos e fatos para defendermos as mudanças que tão necessárias se colocam no âmbito “técnico-tático-físico-psicológico” do jogo e do jogar, é preciso que não troquemos os pés pelas mãos, e nem que nos apoiemos em cenas vazias expostas a partir de interpretações que nascem enviesadas.

Querendo ou não, a Lógica Inexorável do Jogo se sobrepõe, como referência norteadora da preparação de jogadores e equipes, a qualquer outra coisa!

Por isso, mais do que qualquer coisa, é na abordagem sistêmica que devem se concentrar, tanto as análises daquilo que ocorre em uma partida, quanto na preparação de jogadores e equipes.

E não perdendo de vista o caráter da abordagem, os caminhos escolhidos para análise e preparação são inúmeros – assim como os “jogares” possíveis…

Fecho então o texto de hoje com uma frase do brilhante e vencedor treinador Louis van Gaal, sobre outro brilhante e vencedor treinador, o José Mourinho (que foi seu assistente técnico), por ocasião da final da Uefa Champions League 2009/2010, entre Bayern de Munique (treinado por van Gaal) e Internazionale de Milão (treinado por Mourinho) – vencida pelo time italiano:

"O único aspecto comum entre o meu modo de treinar e o de Mourinho é a atitude com que enfrentamos nossos jogadores. Sabemos ser líderes. Mas ele só quer ganhar, e eu penso também em divertir o público, algo que não pode ser secundário" (…) "cuidar da qualidade do jogo não significa se desinteressar pelo resultado. Sou discípulo de Rinus Michels, pai do futebol total. Sigo um caminho mais difícil do que o de Mourinho, mas respeito"– (disponível em uefa.com).

A beleza do jogo está em nós. A complexidade, no jogo. É isso…
 

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