Lições ao jogo brasileiro

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Quem tem o hábito de ler minhas colunas no Universidade do Futebol talvez se sinta enfadado ao ler o atual texto. É que há tempos venho abordando alguns assuntos que têm muito a ver com o tema desta crônica e com o momento atual das necessidades do futebol brasileiro.

O ambiente esportivo mundial, e principalmente o brasileiro, está atônito diante da trágica derrota para os alemães. Não é tão simples entender já que somos – ou éramos? – o país do futebol. Apesar de achar que uma derrota não pode ser causa de grande comoção, aproveito a oportunidade para continuar falando de alguns problemas que afligem o futebol brasileiro há décadas. Eu diria que já estamos vivenciando com bastante maturidade a primeira fase das nossas necessidades: discutindo o fato; levantando hipóteses em cima das possibilidades de soluções. Enfim, estamos vivenciando a experiência de um amplo debate, aleatoriamente, mas não deixa de ser um grande debate.

Um expressivo erro que não podemos cometer é estacionarmos nesta fase. Contrataremos um novo treinador e acharemos que novos rumos serão tomados com a chegada de mais um “salvador da pátria”. Estaremos sim, perpetuando uma fórmula perniciosa e ineficaz de soluções para os resultados de campo.

Aí reside, talvez, o grande “x” da questão: há anos, temos procurado soluções para os resultados e não para a qualidade do nosso jogo. A segunda preocupação nos remeteria à interferência em várias áreas que necessitam de cuidados especiais. Isto geraria muito trabalho e algum tempo para que os resultados aparecessem. Historicamente tem se comprovado que nós brasileiros não queremos esperar por respostas tão demoradas!

No entanto, o que não tivemos pressa em destruir, são aproximadamente trinta anos de um processo depreciativo do nosso jogo, não podemos ter pressa para reconstruir. Será preciso, a partir de uma ampla reflexão, um plano de ação multidisciplinar nas mesmas dimensões. Tudo deverá passar por:

1 – Adequar a gestão esportiva brasileira – nos âmbitos das leis que regulamentam a prática do nosso esporte, nos clubes, nas Federações, na CBF e em outras instituições afins;

2 – Regulamentar a profissão de treinador – o que passa pelo primeiro item;

3 – Qualificar e regulamentar a capacitação dos nossos treinadores – idem;

4 – Ainda como consequência do primeiro item, mas quase que como um item distinto, viabilizar o calendário de competições nacionais;

5 – Dentre muitos outros pontos, que acabam sendo consequências, principalmente, do primeiro item: a gestão esportiva.

Se assim é, será preciso orientar essa discussão em foros competentes e que tragam soluções. Os órgãos de competência institucionalizada devem “dar a cara” à frente desses foros. Ao contrário do que costumamos assistir, será importante a participação de todos os segmentos envolvidos na engrenagem do futebol: dirigentes de clubes, treinadores, atletas, mídia especializada, dirigentes de federações, instituições governamentais, representantes da sociedade, dentre outros. Se assim não for, correremos o risco de ficarem pontos mal resolvidos, ou com conclusões distorcidas.

A CBF, como entidade mantenedora da ordem e competência futebolística brasileira, terá oportunidade ímpar nas mãos, qual seja, capitanear o grande projeto de reestruturação do futebol brasileiro.

Não precisamos criar uma colcha de retalhos pegando pedaços de verdades que servem a outros países e que vindo para a nossa realidade não resolverão nossos problemas. A simples exposição da realidade vivida pelos segmentos do futebol brasileiro será capaz de subsidiar uma importante “carta de intenções” para a resolução dos nossos problemas. A partir daí, a vontade política deverá arregaçar as mangas dos segmentos responsáveis e mãos a obra. Temos muitos profissionais de alto nível, em vários setores do esporte das multidões, que estão diluídos num ambiente mal gerido. É preciso saber explorar o potencial latente destas competências.

Não quero cometer os mesmos erros dos muito bem intencionados escritores e oradores que estão apontando vários problemas e meias soluções para cada um deles. A abordagem é complexa e, às vezes, para debelar uma causa deveremos ir em várias direções. Defendo uma abordagem ampla, onde de A a Z todos os setores do esporte dos nossos corações sejam contemplados na empreitada do desenvolvimento que almejamos.

O futebol brasileiro clama por uma atenção há vários anos. É preciso fazer algo. Volto a dizer, não vejo o 7×1 como causa dos problemas, mas pode ser um ponto a partir do qual virão várias soluções.

Se tivermos o cuidado de observar com olhos criteriosos, veremos que de várias formas já existem movimentos brasileiros se desenvolvendo em favor da modernização do jogo e da gestão do nosso futebol. São correntes independentes e ou isoladas que pregam ou desenvolvem linhas de trabalhos bastante competentes e modernas. Alguns treinadores, principalmente da base, categorias de base de alguns clubes, projetos de cursos e pós-graduações espalhados pelo país, setores do jornalismo especializado, dentre outros segmentos, já pensam, propagam ou promovem trabalhos interessantes para o futebol. É preciso que esta frente de atuação alcance o grande círculo do futebol brasileiro para provocar as mudanças necessárias. No universo da complexidade sistêmica o mundo se reinventará sistemicamente se houver mudança de hábitos seguida de alterações na mentalidade. Toda causa cria novos efeitos que vão se confrontando ao longo da linha do tempo. Da mesma forma que se deteriorou, o futebol brasileiro veio criando antídotos a estas mazelas, que infelizmente não tiveram forças para debelá-las a tempo e a hora. Com olhares criteriosos perceberemos as “soluções caseiras” necessárias e interessantes para os nossos problemas futebolísticos.

O site Universidade do Futebol há alguns anos é parte deste “mutirão” de intenções nacionais que aponta para a competente modernização do futebol brasileiro. Trata-se de um grande foro virtual de debate dos problemas e soluções nacionais para o futebol. Se os organismos competentes brasileiros tiverem a inteligência e perspicácia de tê-lo como orientador dos seus passos, não tenho dúvidas, caminharemos rapidamente na trilha das soluções de muitas das nossas dificuldades.

O futebol brasileiro vai se reerguer. É preciso, no entanto, que encaremos a evolução sem a arrogância tupiniquim que tem nos afligido nos últimos anos: somos os melhores, pois temos os melhores jogadores do
mundo. Ou, quando necessário os nossos jogadores resolverão. É importante aceitarmos que o melhor jogador do mundo, chancela mundial atribuída ao jogador brasileiro, não joga mais o melhor jogo do mundo. A nossa escola do jogo se perdeu, talvez como consequência dos efeitos de muitos anos da tal arrogância tupiniquim. Não somos mais o país do futebol, mas eu acredito que ainda somos o país do jogador de futebol. Já ouvi isto antes!

Até a próxima resenha. 

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