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Imagine um lugar em que os clubes de futebol estão com gravíssimos problemas financeiros. Acumulam dívidas fiscais, dívidas com fornecedores e, principalmente, dívidas com jogadores. Afinal, com um péssimo controle financeiro, gastam mais do que ganham. Tudo em nome da performance em campo. Nesse mesmo lugar, os estádios estão velhos e caindo aos pedaços, e não há nada que os clubes possam fazer, uma vez que a imensa maioria não é realmente dona do seu estádio, que em geral pertence ao governo local.
 
Com péssimos estádios, o público deixa de comparecer aos jogos, o que eventualmente favorece o violento confronto entre torcidas, em sua maioria caracterizada por facções organizadas, composta principalmente por jovens das classes mais populares. Tal comportamento é reprimido pela polícia de forma por vezes ainda mais violenta. Com isso, os estádios tornam-se imensos campos de batalha, o que faz com que uma boa parte dos torcedores prefira acompanhar o seu time de casa, na frente da televisão.
 
Dessa forma, os clubes ficam extremamente dependentes da receita proveniente da venda dos direitos televisivos do campeonato nacional. Entretanto, como o valor da venda não é dividido de forma igualitária, os principais clubes do país recebem muito mais dinheiro do que as equipes menores, e acabam se perpetuando no poder. Porém, não é incomum ver um clube pequeno se dando bem no campeonato nacional e conseguindo uma vaga para o principal torneio continental.
 
Os dirigentes, de um modo geral, tendem a não serem pessoas muito confiáveis e se perpetuam no poder, e muitos se valem da popularidade do futebol para almejar cargos públicos. Outros acabam gerenciando o clube de maneira não muito ética, o que eventualmente faz com que pipoquem na imprensa os escândalos de arbitragem e doping, e casos de subornos e lavagem de dinheiro.
 
Nesse lugar, tudo isso é de conhecimento público, o que não significa que o governo tome medidas enérgicas para coibir tal comportamento. Ele até faz uma coisinha aqui, outra ali, mas em geral tolera esse tipo de prática. Afinal, o país possui uma imensa tradição no mundo do futebol, e a sua seleção é uma das equipes mais vitoriosas da história, e está diretamente ligada ao orgulho e à identidade nacional.
 
Imaginou? Fácil, né? Afinal, parece o Brasil. Parece, mas não é.
 
A situação acima descrita mostra a atual situação do futebol italiano. Coisa de primeiro mundo.
 
Das cinco maiores ligas de futebol do planeta (Itália, Franca, Alemanha, Espanha e Inglaterra), a Itália é, de longe, a que se encontra em situação mais complicada. Nos dez últimos anos, os clubes da Serie A acumularam um prejuízo de cerca de 1,3 bilhões de euros, muito por culpa do pouco controle financeiro sobre salários e transferências.
 
O choque maior ocorreu no começo da década, quando os clubes italianos tentaram acompanhar a escalada do valor de salários e transferências pela Europa, puxada principalmente pela Inglaterra, mas não conseguiram honrar seus compromissos. Clubes importantes como Lazio, Roma e Fiorentina sofreram graves conseqüências por esse processo.
 
Não ajuda em nada o fato do futebol italiano ainda se sustentar em cima da estrutura criada para a Copa de 90, quando a indústria do futebol ainda não havia alcançado o estado atual de racionalidade, e acabaram sendo construídos enormes elefantes brancos, muitos dos quais ainda permanecem em poder do governo local. Por conta disso, poucos clubes conseguem reformar seus estádios, o que acaba afastando o torcedor. Nos últimos anos, a média de público da Serie A tem caído vertiginosamente.
 
Para piorar, têm sido muito comum os escândalos de doping e manipulação de arbitragem, o que culminou com o rebaixamento da Juventus na temporada passada. Isso fez com que a já decrescente média de público caísse ainda mais. Para se ter uma idéia, a média de público da Serie A na temporada 97/98 foi de 31 mil pagantes por jogo. Na temporada 04/05, o número havia caído para 25 mil, uma redução de aproximadamente 20%. Por conta do recente escândalo envolvendo Juventus, Milan e afins, a temporada passada foi ainda pior, com uma média de apenas 19 mil pagantes por jogo. Uma redução de cerca de 24% em relação à temporada 04/05 e de quase 40% em relação à temporada 97/98. Das 5 maiores ligas mundiais, a italiana foi a pior em média de público.
 
Pouco público no estádio tende a significar muita dependência das receitas provenientes da televisão, o que no caso italiano significa cerca de 62%. Essa receita, entretanto, varia muito de clube para clube, uma vez que os direitos de televisão não são vendidos coletivamente. Clubes maiores, como Milan, Inter e Juventus, ganham muito, mas muito mais dinheiro do que o resto, o que eventualmente diminui a competitividade, o que fere o poder da Liga como um todo.
 
A situação do futebol italiano está bastante complicada e ninguém sabe dizer ao certo se existe alguma solução rápida e que não seja extremamente penosa para os clubes, principalmente para os maiores. Entretanto, alguns setores já começam a se mobilizar buscando a recuperação, notadamente o poder público, que contava com a Eurocopa de 2012 para dar uma revitalização geral no mercado. Ela acabou indo pra Polônia, mas ainda assim o governo disse que vai se mexer para modernizar o deficitário e problemático sistema atual. Caso consiga, será um grande exemplo para o mundo inteiro.

A Itália, de Totti, Zambrotta e Canavarro, não é logo ali – ao contrário da África do Sul. Entretanto, ela pode servir como um ótimo espelho para o futebol brasileiro. Estruturalmente, ela é mais parecida com o Brasil do que com seus vizinhos mais ricos.

É bom ficar de olho.
 

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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