O banheiro do Papa e a Copa 2014

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Assisti, há alguns meses, a um filme uruguaio muito inteligente, sensível e de pouca atenção recebida por parte do público e crítica no Brasil – “O Banheiro do Papa”.

Estamos em 1988 e o Papa João Paulo II está vindo para Melo, um pequeno vilarejo no interior do Uruguai. Um grande número de seguidores, a maioria brasileiros, deverá comparecer à cerimônia em que o Papa fará um discurso sobre a importância do trabalho. 

Baseado em um fato real, o filme retrata o impacto da visita do Papa, na pequena cidade próxima à fronteira com o Brasil, onde muitos habitantes vivem de pequenos serviços, como contrabandear produtos de consumo comprados  no Rio Grande do Sul. 

A vinda do Papa é anunciada pela imprensa com grande alarde, noticiando 50 mil pessoas no evento. No panorama de dificuldade de emprego e oportunidades, a vinda do Papa é vista pela população de Melo como uma oportunidade de abrandar a pobreza, fazendo com que todos se mobilizem em torno do evento para dele tirar proveito próprio, especialmente com quitutes e bebidas.

E, para fazer jus ao título do filme, o protagonista Beto, “bagayero”, que com sua bicicleta troca os mais variados itens na fronteira e percorre 120 quilômetros até a fronteira. Embora não muito entusiasmado com a visita do Papa, tem uma idéia para ganhar dinheiro com os visitantes. Beto irá construir um banheiro em frente à sua casa e cobrará pelo uso. 

O Papa chega em Melo. Entretanto, estima-se que apenas 500 pessoas tenham visitado a cidade à época. Até hoje, a data simboliza a maior calamidade econômica na memória dos habitantes do vilarejo. Toda a comida e bebida não foram consumidas e, portanto, foram doadas ou simplesmente desperdiçadas.

Copa do Mundo em 2014 no Brasil. Já tenho ouvido falar e visto, vividamente, de toda sorte de benefícios para a sociedade em geral, nas cidades-sede, além de pessoas e empresas interessados em “fazer negócio”, “ganhar dinheiro”, “aproveitar a oportunidade” do evento que ocorrerá em seus quintais.

De fato, um acontecimento deste porte possui o condão de impulsionar mudanças positivas num cenário mais amplo, cujos reflexos podem ser sentidos na economia, no esporte, na sociedade em geral.

Mas vejo como imperiosa a preparação das condições para que este cenário aflore no futebol brasileiro o senso obrigatório de mudança, favorecendo o “legado da Copa” – expressão que resume todo o conjunto de benefícios tangíveis e intangíveis do maior evento do mundo – em nível individual, dos que desejam tornar esse esporte sua profissão, e também em nível coletivo, com a articulação inteligente das principais entidades que lhe dão base de sustentação.

Cito uma expressão consagrada e, de repetida, não consegui credenciar a fonte: cuidado com o que deseja, pois seu desejo pode se tornar realidade.

O de (quase) todos nós já se tornou. Copa 2014 no Brasil! A contagem regressiva começou. Melhor o Brasil e os brasileiros se prepararem com profissionalismo, fiscalização de investimentos públicos, qualificação técnica das pessoas cujas profissões serão essenciais ao evento, serviços públicos aperfeiçoados, benfeitorias viáveis econômica e ambientalmente nas cidades-sede.

Senão, teremos grandes chances de repetir a história da cidade de Melo, do protagonista Beto e de seus conterrâneos, numa escala muito maior de frustração.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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