O jogo de futebol, na perspectiva da complexidade, é caracterizado por alguns elementos que o definem enquanto um sistema. São eles: as milhares interações entre os seus integrantes, a presença permanente da auto-organização, a visão de globalidade, chamada pelos portugueses de inteireza inquebrantável (em que cada fração do sistema/jogo não pode ser analisada desvinculada do todo), e, por último, a sua funcionalidade/objetivo.
Neste contexto, o confronto de sistemas tem sido minuciosamente estudado e as informações obtidas podem contribuir na construção de um olhar mais apurado sobre as situações-problema (física-técnica-tática-psicológica) que emergem quando na prática do jogo.
Metabolismo predominante, característica dos deslocamentos, distância total percorrida, quantidade de saltos, número de mudanças de direção, quantidade, predomínio e características das ações técnicas, tempo de posse de bola, esquemas táticos, princípios táticos e conduta psicológica são algumas das informações identificáveis através da atuação de uma equipe interdisciplinar e de um departamento de análise de desempenho.
Após cada jogo, uma avaliação detalhada pode ser realizada e no cruzamento destas informações, estarão os comportamentos de jogo (físico-técnico-tático-psicológicos) que potencializaram o êxito ou o fracasso.
Para exemplificar, justificando um mau resultado, poderá ser identificado que a equipe gerou poucas situações de superioridade ou igualdade numérica em setores importantes do terreno de jogo e que seu meio-campo efetuou poucos passes que promoveram desequilíbrio ao adversário. Como outro exemplo, agora para explicar uma vitória, pode ser confirmado que a equipe neutralizou as transições ofensivas adversárias e que venceu a maioria das disputas de segunda bola.
Como cada jogo é irreversível, logo, único, as particularidades e nuances que “contarão a história” do que foi uma determinada partida tende a ser bem diferente de outra. Porém, apesar de cada jogo conter a sua história, aqueles estudos minuciosos (recentes ou não) têm apontado padrões do jogo que se repetem, como:
• as inevitáveis perdas da posse de bola
• predomínio da ação técnica de passe
• em posse, cada passe adicional diminui a chance de gol
• menor possibilidade de gol da equipe que dá mais lançamentos longos
• maior possibilidade de vitória da equipe que perde menos a bola
• a maior chance de vitória de quem finaliza certo mais vezes
• a não alteração dos padrões técnicos em função do esquema tático (plataforma de jogo)
• a média de finalizações no alvo
• o predomínio de gols em jogadas com até 5 passes
• o local de maior incidência de gols
• a média de gols de um jogo
Tais padrões se repetem, pois são características inerentes ao jogo e sua lógica. Estas ricas e, atualmente, simples informações devem orientar a semana de treino pelo viés da especificidade. Como o jogo de futebol é um sistema caótico, soma-se aos padrões a necessidade de preparar-se para o imprevisível.
Afinal, aquilo que é do Jogo também deveria ser do Treino. Num ambiente em que a gestão da perda da posse de bola, a assertividade do passe em situações de oposição e a busca pela finalização específica após a manutenção da posse de bola pelo menor tempo possível fossem cenários predominantes, quase exclusivos.
Qual a sua opinião? Abraços e até a próxima semana.