Os criativos brasileiros e o futebol europeu

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"Meias vagabundos!": é esta expressão que o comentarista esportivo português Luis Freitas Lobo utiliza para se referir aos meio-campistas brasileiros que ingressam no futebol europeu. Com grande poderio técnico individual e baixo nível de inteligência coletiva de jogo, o termo é empregado pois as competências essenciais destes jogadores, tanto com bola como sem, não se adéquam aos princípios de jogo do futebol moderno.

Querem a bola em quaisquer setores do campo mesmo que seja para realizarem uma ação técnica improdutiva, tardam para mudar de atitude nas transições e são inúteis no momento defensivo do jogo. A torcida, o treinador e a equipe ficam a mercê de um lance “mágico”, de característica individual, que possa compensar a inoperância coletiva.

Como o jogo evoluiu e o que se espera dos praticantes também, fica evidente que atletas com essas características não terão espaço nas grandes equipes do futebol mundial. Para confirmar, façam uma pesquisa rápida e vejam quantos meio-campistas brasileiros estiveram em campo nos últimos oito jogos da Champions League 12/13, válidos pelas oitavas de final da competição.

É certo que perdemos espaço e se um dia pretendemos recuperá-lo a transformação da concepção do jogo de futebol, seja destes jogadores seja de quem os ensina/treina, deve ser urgente.

É preciso fazer compreender, desde as idades iniciais de formação, que ter uma boa relação com a bola é apenas uma das competências essenciais da modalidade e que, consequentemente, jogar bem está muito distante de ser habilidoso.

É preciso aprender sobre a totalidade do jogo e a importância da participação efetiva em todos os seus momentos. Devemos, então, desmitificar o conceito de que meias e atacantes atacam e zagueiros e volantes defendem.

É preciso ensiná-los a fechar linhas de passe, fazer dobras, coberturas defensivas, marcar zonalmente, pressionar o espaço do portador da bola, fazer movimentações de ruptura, procurar espaços entre linhas, ocupar as zonas de finalização, dar velocidade ao jogo, tirar velocidade do jogo, ultrapassar a linha da bola defensivamente, mas não querer a bola em setores recuados do campo e a reagir rápido no momento da perda da posse, seja para pressionar seja para recompor.

Adquirir essas competências pode reabrir mercado para os meio-campistas brasileiros no futebol europeu. Até lá, recursos não faltam para que os futuros jogadores profissionais desta posição fiquem preparados e não “sofram” do mesmo mal dos atletas da geração atual.

Modernos centros de treinamento, inúmeros profissionais capacitados espalhados pelo país, material teórico acerca da modalidade com fácil acesso e tecnologia que permite registrar/editar os jogos do futebol europeu.

O clube que conseguir reunir os recursos disponíveis terá condições de aplicar um processo produtivo de formação qualificado que acompanhe as tendências do futebol moderno.

Ao contrário do que alguns menos atualizados possam pensar, é possível acompanhar as tendências do jogo, compreendido como um sistema complexo com variados níveis de relação entre as partes que o compõem, permitindo a criatividade dos seres que jogam. O que não podemos permitir (e por vezes os menos atualizados o fazem) é a criatividade descompromissada, em detrimento das ideias de jogo do treinador e sem relações com o Modelo de Jogo.

Para alguns o futebol europeu é chato, burocrático e mecanizado. Conceitos normais para quem compreende futebol (?), mas não compreende sistemas e o nível de jogo evoluído lá apresentado. Temos que nos mexer se quisermos ver meias brasileiros jogando com sucesso no velho continente. Esta, no entanto, não pode ser a nossa única preocupação, pois corremos o risco de ficarmos novamente para trás…

 

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

 

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