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Há 12 anos, após um dos muitos gols do selecionado brasileiro na Copa do México (aquela do tri), o então radiante Presidente Emílio Garrastazú Médici, plagiando o nosso D. Pedro I, saltou de sua poltrona, sob os olhares assustados de seus secretários, e lá do Palácio das Alvoradas, bradou: Ninguém segura mais este país.

 

Acredito não haver necessidade de lembrar a todos o significado do governo Médici para a história sócio-política brasileira… E mais do que nunca, a partir daquela época passou-se a crer que o futebol poderia, de fato, servir como válvula de escape ou até mesmo como anestésico para uma nação à procura de sua identidade e de seu futuro.

 

E assim foi. Não só o futebol, mas todo o desporto, em diversos momentos da vida social brasileira, tem servido como agente de controle de conflitos sociais, canalizando para si tensões que certamente explodiriam contra aqueles que possuem o interesse de manter e reproduzir o atual estado de coisas. Para muitos, a culpa era do futebol em particular, ou até mesmo do desporto como um todo, agente de alienação popular…

 

Mas de lá para cá esse mesmo povo começou a dar mostras de que tudo poderia ser diferente. As Associações de Bairros, as Comunidades Eclesiais de Base, os Movimentos estudantis começaram a ganhar corpo. Em 1978, às vésperas da cerimônia de abertura de mais outra versão da Copa do Mundo, eclodiu no ar, lá pelos arredores de São Bernardo do Campo, um grito uníssono.

 

Seria Gil, nosso ponta direita? Teria sido Rivelino, liberado pelo departamento médico? Não, não era mais nada disso. Simplesmente os ferramenteiros da Saab-Scania, em greve já fazia algum tempo, recebiam a notícia de que também os trabalhadores da Ford tinham aderido ao movimento grevista.

        

Parece importante fixar todos esses momentos, não porque ingenuamente devamos acreditar que, enfim, chegou a hora em que a Copa do Mundo possa vir a ser considerada, apenas, uma disputa esportiva, e não uma questão de honra e afirmações nacionais a fomentar as emoções de todos os brasileiros durante todos os minutos de todos os dias em que ela se desenvolver, ou ainda durante todas as semanas imediatamente seguintes (quem sabe, até novembro) caso a seleção tenha sucesso.

 

A importância está na constância cada vez maior de momentos iguais ou semelhantes àquele mencionado. A cada instante a sociedade se volta para o debate de mais um tema. É como se, enfim, o gigante adormecido começasse a despertar.

 

E com essa impressão, o medo de torcer para “o” (e não “um”) Brasil campeão esvai-se na certeza de que esses momentos de alegria não mais abafarão o acordar do povo brasileiro.

Para interagir com o autor: lino@universidadedofutebol.com.br

*Lino Castellani Filho é Doutor em Educação, docente da Faculdade de Educação Física/Unicamp, pesquisador-líder do “Observatório do Esporte” – Observatório de Políticas de Educação Física, Esporte e Lazer – CNPq/Unicamp, e foi Presidente do CBCE (1999/2003) e Secretário Nacional de Desenvolvimento do Esporte e do Lazer/Ministério do Esporte (2003/06).



[1] Publicado no periódico Panfleto, do Departamento de Educação Física da Universidade Federal do Maranhão, UFMA. São Luis, MA, Julho de 1982. 

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