Vestindo a camisa

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Todo ser humano tem o direito de torcer por um time. Todo jornalista esportivo tem o dever de não distorcer por ele. Nem todo jogador do meu time é Palmeiras – e, nos últimos anos, parece até que muitos torcem e jogam contra… Tem treinador que torce por outro time e trabalha por nossa equipe. Tem até cartola, parece, que não é Palmeiras. Árbitro tem time – e parece ser sempre o que joga contra o nosso. Nem todos que jogam por nós são como nós. Por que o jornalista não pode ter time? Melhor: jornalista PRECISA ter uma paixão além do emprego. Tem de vestir a camisa do seu time como veste a do seu trabalho – e não a do seu emprego.

Só realmente entende de futebol quem conhece e torce por seu time. Só pode falar da paixão que é o esporte quem exerce pela vida a paixão incondicional de torcer.

Abrir o jogo e a guarda e o coração e o credo e as cores é transparência essencial para o saudável exercício do oficio. O jornalismo é plural como o futebol. É preciso conhecer o outro lado. Ouvi-lo. Entendê-lo para poder entender mais.

Vesti a camisa do Palmeiras na campanha da Adidas. Jamais havia feito publicamente em 23 anos de jornalismo por esporte. Usei também não só por ser uma campanha que pretende agregar verdes de paixão. Também por que quero empunhar essa bandeira de que o jornalista pode cada vez mais empunhar a própria bandeira. Vesti com orgulho essa camisa inspirada naquela que usei pela primeira vez em um estádio, há 40 anos. Essa mesma camisa verde esmeralda, para não escrever verde Palmeiras. Foi no Pacaembu, em outubro de 1973. Foi aquele time que viria a ser bicampeão brasileiro. O da segunda Academia. A de Dudu e Ademir da Guia – como a primeira. A da minha primeira camisa em um estádio. Parecida com essa nova da Adidas. Parecida com essa velha paixão.

De peito aberto sou Palmeiras. Só trabalho em rádio, TV aberta e fechada, jornal, revista, internet, livros, filmes, palestras e videogame por que sou palmeirense. O que me fez ser jornalista esportivo.

Um dia deixarei o jornalismo. Mas jamais meu Palmeiras.

Amor não se esconde. Jornalista que não tem clube do coração não tem time e nem coração.

Aos justiceiros da alma alheia: respeitem o jornalista que, por vezes, não pode assumir o time que o levou ao jornalismo.

Mas suspeitem do jornalista que inventa time para torcer.

E deixem de seguir o jornalista que troca de time ou desiste do único amor incondicional que conhecemos na vida.

Que mais jornalistas se juntem ao time dos com-clube – mas sem clubismo. Que os picaretas de coração de pedra das tribunas sigam se escondendo sob o hipócrita manto da imparcialidade fajuta.

Eu adoraria voltar a vestir mais vezes a nossa camisa. Mas muitos entendem que é preciso usar uma burca para escamotear o que quem tem peito jamais esconde.

Já tive de vestir máscara de mister M na arquibancada. Espero agora que algumas máscaras caiam. E mais gente possa tirar do armário a cor de sua paixão.

A minha é verde e branca. Respeito a dos outros. E admiro ainda mais quem usa a cor de criação. A paixão que sabemos de cor.

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

 

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