Será que voltei para o mesmo país?

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Por motivos profissionais estive fora do Brasil durante algum tempo.

 

No dia de meu embarque, por ter chegado cedo no aeroporto de Cumbica em Guarulhos, tive a oportunidade de assistir a um programa esportivo na televisão do próprio aeroporto que comentava a convocação da seleção brasileira feita naquele dia.

 

Depoimentos de vários jornalistas, bem como de pessoas comuns entrevistadas, davam destaque aos 23 nomes escolhidos por Carlos Alberto Parreira. Uma unanimidade quase que total.

 

Chamou-me a atenção os elogios rasgados ao treinador que nos últimos tempos vinha mostrando liderança, equilíbrio e sabedoria no comando da seleção brasileira, e por isso conquistando expressivas vitórias e títulos importantes como a Copa das Confederações, Copa América e a classificação em primeiro lugar nas eliminatórias para a Copa do Mundo.

 

Para não dizer que não houve nenhuma crítica, alguém comentou que Parreira estava um tanto nervoso na hora de anunciar os nomes dos 23 eleitos para representar o Brasil na Alemanha, ressalvando, entretanto, que este nervosismo era infundado já que nunca havia ocorrido uma convocação com tamanho acerto e aprovação popular.

 

Por conseqüência, os jogadores também eram elogiados, tanto os experientes Cafu, Roberto Carlos, Ronaldo e Émerson quanto os mais novatos Robinho, Cicinho e Fred. Até a convocação surpreendente do goleiro Rogério Ceni, segundo alguns jornalistas, demonstrava com todas as letras, mais uma vez, a maturidade do sério e competente treinador da nossa excepcional seleção canarinho.

 

Nesta segunda-feira, dois dias depois da eliminação da seleção brasileira da Copa do Mundo, desembarquei no mesmo aeroporto de Guarulhos, coincidentemente no mesmo instante em que vários jogadores brasileiros também chegavam ao Brasil de retorno da Alemanha.

 

Foi patético observar a reação das pessoas e as críticas veladas e explícitas aqui e ali sobre este e aquele jogador.  Ouvir vaias e xingamentos dirigidos aos atletas, então, foi um espetáculo deprimente.

 

Fiquei ainda mais surpreso ao comprar alguns jornais e revistas e ler as críticas, quase que unânimes, a Carlos Alberto Parreira. Ultrapassado, frio, pouco vibrante, refém das estrelas, incompetente e sem comando foram alguns dos adjetivos dados ao treinador.

 

Enfim um contraste total com o que tinha observado no meu embarque, algumas semanas antes da Copa.

 

Parecia até que estava desembarcando em um outro país.

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