Imagem também é informação

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Muitas vezes imaginamos que o jornalismo compreende apenas o trabalho do repórter, que vai atrás da informação, entrevista a fonte, relata uma história. Mas, desde sempre, além do trabalho de apuração da notícia, existe um outro tipo de jornalismo, que é aquele produzido por fotógrafos e cinegrafistas.
 
A imagem é, sem dúvida alguma, informação, e dessa forma pode ser compreendida como jornalismo. E de fato é. Sempre temos uma imagem que consegue captar um momento único, que consegue fazer com que a informação seja transmitida sem o auxílio de qualquer outro recurso, seja ele uma entrevista, uma legenda, um relato.
 
Mas a imprensa, principalmente a que cobre o futebol brasileiro, tem se especializado cada vez mais em ocultar algumas informações dos seus telespectadores. Especialmente quando esse tipo de informação tem de ser transmitida por imagens.
 
Em nome de seu padrão de jornalismo, a Globo tem como obrigação não citar os nomes de marcas que investem em patrocínio. A regra não vale apenas para o esporte. Todo o jornalismo da casa é proibido de falar o nome de empresas que patrocinam alguma coisa. O próprio convidado de programas como o “Jô Soares” têm sua entrevista editada para que não seja falado o nome do patrocinador de uma peça teatral, por exemplo.
 
Da mesma forma, a emissora tenta impedir que as marcas se aproveitem de sua enorme audiência para fazerem promoções. Com isso, a Globo também levou a seus câmeras a obrigação de ocultar as marcas que aparecem em backdrops de entrevistas, por exemplo.
 
Como a Globo é a dona do jornalismo de maior qualidade da TV brasileira, o modelo que ela criou no relacionamento com o esporte acabou fazendo com que essa regra se expandisse para todas as outras emissoras do país.
 
Só que, ultimamente, a criatividade dos departamentos de marketing tem feito com que os cinegrafistas sofram para manter intacto o “padrão Globo de qualidade”. E, nessa disputa, quem mais sofre é o telespectador.
 
Na última quarta-feira, após o empate do Santos contra o América, no México, o goleiro Fábio Costa se posicionou para dar entrevista, ainda no gramado do estádio. Prontamente, uma elegante mulher, vestida com a marca da cerveja Corona, patrocinadora da equipe mexicana, se colocou atrás de Fábio Costa. O objetivo não era ela aparecer na TV, mas sim a marca da cerveja, que inclusive tem baixíssima participação no mercado brasileiro.
 
Em nome de seu padrão de jornalismo, o cinegrafista da Globo tratou de fechar a câmera ainda mais no rosto de Fábio Costa, na tentativa de esconder a marca da cervejaria. O que se viu, a partir daí, foi um rosto distorcido do goleiro santista, enquanto a garota no fundo ficava com o boné mostrando apenas uma parte da marca mexicana.
 
A imagem, porém, não transmitia qualquer informação. Para quem via de relance, não era possível sequer saber direito quem era o entrevistado. E, para aqueles que viram a cena desde o início, ficou óbvia a tentativa de esconder a marca da cerveja, o que indiretamente ajudou a marca a ser reconhecida.
 
No final, a estratégia de burlar as marcas em nome do bom jornalismo mostrou-se mais eficiente para o departamento de marketing do que para o telespectador. Mas o trabalho não deveria ser pensando no bem do telespectador?

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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