Quem Inventa Agüenta

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Estava eu a pensar com os meus botões.
Sábios botões eles.
 
Pensava sobre aquilo que mais tem movimentado a indústria nesse início de Campeonato Brasileiro. Pensava, portanto, em estádios.
Especialmente em estádios para a Copa do Mundo de 2014, o que me levou a pensar sobre toda a estrutura para a Copa de 2014.
Veio a pergunta que todos se fazem: estará o Brasil apto a receber uma Copa do Mundo?
 
Sempre defendi a idéia de que não. Que 2014 me parece muito cedo. Seria melhor se fosse em 2018, ou em 2022. Hospedar em sete anos me parecia prematuro, um grande desperdício de oportunidade.
 
Foi quando um dos meus botões me lembrou de uma das mais importantes brincadeiras da minha infância: esconde-esconde. Aquele jogo que uma criança se encosta em algum poste ou coisa do tipo, fecha o olho, conta até cem, mais ou menos, e enquanto isso todas as outras crianças procuram um lugar para se esconder. Ao término da contagem, a criança encostada sai à procura dos escondidos, que por sua vez tem como objetivo se esconder até conseguir uma brecha pra chegar ao local da contagem antes da criança-encostada.
 
O esconde-esconde moldou e influenciou muitas cabeças infantis. A minha, inclusive. E dos inventores do Lost, provavelmente.
 
Era uma brincadeira muito divertida, menos pra criança que procurava as outras. Ninguém queria fazer a contagem. Todos queriam se esconder. Por isso, era muito difícil escolher quem era a criança que iniciaria o jogo contando. Afinal, como começar uma brincadeira de esconde-esconde se ninguém quer contar? Voluntariado?
Para tal, foi inventada uma regra, a regra do quem-inventa-agüenta.
 
Diz a regra do quem-inventa-agüenta que se você sugerir a brincadeira de esconde-esconde, é você quem vai começar contando.
Algo como:
“Vamos brincar de esconde-esconde?”
“Vamos! Quem inventa agüenta!”
“Droga!”
“Êêêêê!”
 
Essa regra valia pra outras coisas. Valia pro pega-pega. Pro mãe-cola. Pro mãe-cola-americano.
 
E vale, agora, pra FIFA.
 
O raciocínio é o seguinte.
Tanto a África do Sul quanto o Brasil só vão receber a Copa do Mundo por causa do rodízio de continentes inventado pela FIFA. Não fosse por ele, dificilmente os dois países conseguiriam fazer frente a eventuais propostas da Austrália, Inglaterra, Índia, China e Canadá.
 
Pois bem.
Se foi a FIFA quem inventou o rodízio, por que é que a África do Sul e o Brasil precisam se preocupar tanto em oferecer as mesmas condições que a Alemanha, o Japão, a França e os Estados Unidos ofereceram?
Não dá. É impossível. Não vai acontecer.
 
A Copa da África do Sul tem que ser adequada à África do Sul, do mesmo modo que a Copa de 2014 no Brasil tem que ser adequada ao futebol brasileiro.
O Brasil não precisa se maquiar para os padrões de países desenvolvidos. Tem que mostrar aquilo que é.
Não dá pra fazer estádio muito grande porque vai ter prejuízo no futuro? Não faz.
Não dá pra ter vias de acesso bem feitas para os estádios uma vez que não dá pra ter vias de acesso bem feitas pra qualquer outro lugar? Que se tenham vias de acesso mal-feitas.
Não dá pra garantir a segurança de ninguém perto do estádio porque também não dá pra garantir a segurança quando o carro parar no sinaleiro? Que se tenha o risco da insegurança.
 
Ou o Brasil muda inteiro pra Copa, ou não muda em nada. O que não pode é haver um desequilíbrio entre aquilo que será apresentado para o mundo por conta de um evento futebolístico controlado por uma entidade privada e aquilo que o país realmente é. O investimento do Estado, principalmente, não pode se restringir em atender à Copa. Tem que atender a todos, em todos os lugares, em todos os setores, sejam eles ligados ao futebol ou não. Somos, ou pretendemos ser, um país de iguais.
 
Agora, se a FIFA vier reclamar que as estruturas são precárias, que a segurança é fraca e que o país é desorganizado, azar. Ninguém mandou inventar o rodízio de países.
 

Afinal, como dizem as sábias crianças, quem inventa tem que agüentar.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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