O Brasil não deveria jogar a Copa América. Não essa, pelo menos. Nem o Brasil, nem qualquer outro país, fora a Bolívia. A Copa América, nesses moldes, deveria ser um amistoso entre Venezuela e Bolívia. Talvez um gol a gol entre Chávez e Morales, com Rafael Correa esperando do lado de uma das traves.
A Copa América é uma piada. Virou uma quitanda de produtos populistas. Não foi feita para se jogar futebol, mas sim para propagar ideais defasados e incompatíveis com o mundo atual.
A começar pelo primeiro jogo, entre Venezuela e Bolívia, que – repito – poderia ser muito bem um gol a gol entre os respectivos presidentes. Ou uma disputa de embaixadinha. Alguma, qualquer, dúvida de que houve manipulação direta da tabela, e conseqüentemente da própria Copa em si, para servir a ideais populistas? É um absurdo que ninguém esteja falando nada.
Mais absurdo é que a Venezuela, Chávez, no caso, se auto proclame líder de um sistema político revolucionário que irá mudar o mundo, o tal do socialismo do século XXI, mas utilize práticas características de quase cinqüenta anos atrás. A Copa América de 2007 é muito semelhante à Copa do Mundo de 1978 na Argentina, e, porque não, à Copa de 50 no Brasil. É um evento bancado pelo Estado e, por conseqüência, serve como instrumento da propaganda estatal.
A Venezuela, sabe-se, não é um país muito adepto ao futebol. Tampouco tem lá muita tradição esportiva. Nem por isso deixou de construir novos e enormes estádios, na sua maioria ovais, seguindo ao padrão dos regimes militares. É a mesma coisa que aconteceu por aqui no século passado, e, se tudo der errado, vai ser a mesma coisa que vai acontecer por aqui em breve. É óbvio que os estádios vão ser subutilizados. É óbvio que é um desperdício de dinheiro. E é óbvio que os novos estádios servem para a mesma coisa que serviram o Maracanã, o Mineirão e o Monumental de Nuñez: para puro e simples populismo.
A Copa América pode até dar um certo início ao futebol na Venezuela, mas certamente vai condenar o esporte a anos, talvez décadas, de servidão ao interesse do Estado. Tal qual ocorreu por toda a América Latina, nos seus mais diferentes níveis. A Copa América serve, enfim, como um brinquedo bolivariano.
Um país como o Brasil, que dá sinais de tentativa de ingresso em mercados mais racionais e desprovidos de tanta influência política, jamais deveria consentir com um evento como esses, assim como não deveria consentir com tanta falta de atitude às bravatas e ações de Chávez.
Se bem que se for levar em conta que a idéia por lá é estrutura bancada pelo dinheiro público, tanque na rua pra garantir segurança e imagens de políticos aparecendo em todos os locais possíveis, não tem muito que o Brasil possa fazer. Afinal, antes de mexer na casa dos outros, é melhor arrumar a nossa própria.
Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br