Três pequenas medidas

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O presidente Lula reclamou do excesso de transferências de jogadores do Brasil para o exterior. Normal. Segue, como sempre, o discurso mais fácil. O discurso mais simples. O discurso mais compreensível.
 
Como a maioria dos brasileiros que acompanham futebol, Lula se incomoda com a saída dos atletas. Ainda mais ele, torcedor do Corinthians, que vê hoje um time bastante desfigurado em relação àquele de quando o time foi campeão brasileiro.
 
Lula tem razão para ficar preocupado. Afinal, nunca na história desse país tantos jogadores foram embora. Nos oito anos de governo FHC, a média de transferências foi de 560 jogadores por ano. Nos quatro primeiro anos de governo Lula, a média saltou para 842 jogadores, mais de 50% a mais.
 
Obviamente que a culpa, se é que existe algum sentimento de culpa envolvido nesse processo, não cabe principalmente ao governo Lula. Mas ele, diferentemente de qualquer outro cidadão comum do país, pode de fato ajudar a atenuar o tamanho desse êxodo. Eis aqui, então, uma lista de três pequenas recomendações ao presidente Lula para diminuir o número de transferências internacionais que tanto lhe incomoda:
 
1) Reduzir a desigualdade:
 
O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, o que não é novidade pra ninguém. O que pode ser uma informação nova é que o tamanho da desigualdade de um país está diretamente atrelado ao número de jogadores de futebol presentes em campeonatos estrangeiros. Estudos comprovam que quanto maior a desigualdade social de um país, dentro de certo contexto, maiores são as possibilidades de sucesso internacional do selecionado nacional. Como países desiguais tendem a não ter condições econômicas para sustentar um campeonato forte, cria-se o cenário perfeito para a evasão de talentos. Obviamente que a redução da desigualdade também implicaria em uma perda de poderio da seleção brasileira, mas isso é outra história.
 
2) Melhorar a educação:
 
O Brasil tem excesso de jogador. Como tem excesso de laranja. O mercado interno não consegue absorver, o que eventualmente favorece a exportação. Ou seja, mesmo que os principais clubes do país não vendessem jogadores, ainda assim o número de transferências seria alto, principalmente de jogadores mais jovens, que na falta de absorção interna, buscariam o mercado externo. Casos como do Eduardo da Silva, do Arsenal e da Croácia, se multiplicariam. Para atenuar esse processo, é imprescindível que se melhore o sistema educacional, oferecendo maiores possibilidades de ascensão social para jogadores que não se consigam achar espaço nos clubes do país. Crianças das classes mais baixas que hoje saem de casa aos nove anos de idade para tentar jogar futebol e dar melhores condições para sua família poderiam permanecer na escola e ainda assim ter chances de subir de classe social. Eventualmente, a melhora da educação poderia refletir na perda de desempenho futuro da seleção brasileira, mas isso é outra história.
 
3) Reduzir os impostos ou melhorar o serviço público:
 
Com uma das duas ações, o governo desafogaria a classe média, que ganharia poder de consumo e poderia eventualmente decidir torrar parte da renda em jogos de futebol sem comprometer o orçamento familiar. Dessa forma, os principais clubes do país teriam mais mercado para se desenvolver, o que eventualmente poderia reduzir a necessidade da venda de jogadores para clubes de fora do país. Isso traria uma série de outras conseqüências, mas também é outra história.
 
Essas três pequenas recomendações não solucionariam todos os problemas do futebol brasileiro, infelizmente, mas já seria uma boa ajuda. Elas também não impediriam que jogadores como Kaká e Ronaldinho fossem jogar em outros países, mas colaborariam para que o Elano não fosse para o Shaktar.
 
De qualquer forma, essas três medidas não devem ser cobradas do governo apenas como forma de acabar com a evasão de talentos de jogadores de futebol. Elas devem ser cobradas para a melhora do país como um todo.
 
O problema é que a hora que algum representante ouvir isso, ele provavelmente vai dizer que, nesse caso, a história é bem diferente.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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