René Descartes, filósofo, físico e matemático francês viveu de 1596 a 1650. Desde aquela época nossa cultura ocidental sofre a influência de seu pensamento. Uma influência tão grande que ele é considerado um dos maiores pensadores de todos os tempos.
Foi Descartes que deu forma à visão mecanicista de mundo. Ou seja, uma visão que tem como imagem do universo algo semelhante ao mecanismo de um relógio.
Mas antes de criticar indiscriminadamente suas idéias, temos que reconhecer que foi o paradigma mecanicista que ajudou a transformar o mundo medieval no mundo moderno, através das revoluções científica, industrial e tecnológica, tal qual o conhecemos hoje.
Entretanto, este é um modelo que está se exaurindo. Não podemos mais, como ainda querem muitos, continuar a entender o mundo, a vida, o corpo humano como uma máquina. E conseqüentemente é este mesmo entendimento que foi repassado para o futebol, para o atleta, e dura até nossos dias. Não é à toa, por exemplo, que nas conversas sobre futebol, ouvimos com freqüência jogadores serem tratados como “peças de reposição”.
Está mais do que na hora de compreendermos que um jogador não é em absoluto uma máquina que se soma a outras 10 máquinas para compor uma máquina maior a qual chamamos de time ou equipe de futebol.
Um atleta é, antes de qualquer coisa, um ser humano, dentro de toda a sua individualidade e complexidade. Um ser que se relaciona, que tem sentimentos e emoções, que pensa e é capaz de ser criativo.
Como nos ensina a consultora organizacional Margaret Wheatley, “a criatividade (numa empresa) é indesejável porque é sempre surpreendente e, portanto, incontrolável.”
Assim é que também um time de futebol não pode ser construído dentro desta perspectiva mecanicista. Isto porque a visão mecânica do atleta é incompatível com o pensamento, a emoção e a criatividade.
Infelizmente, enquanto continuarmos a enxergar e tratar o jogador como uma máquina, avançaremos muito pouco em seu desenvolvimento.
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