A morte anunciada do futebol brasileiro

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Sejamos sinceros. A coisa está feia para o futebol brasileiro. Se a realidade já não ajuda muito, o futuro é ainda mais tenebroso. O pior é que há muito pouco o que se possa fazer. Afinal, não há um clube, uma federação ou algum outro elemento do cenário nacional que tenha capacidade de frear os dois maiores responsáveis pela construção desse amanhã sombrio: a globalização e o desenvolvimento tecnológico.
 
Na medida em que o mundo vai se tornando uma coisa única e a tecnológica permite que haja de fato um conteúdo global acessível a todos, é natural que a população comece a criar uma cultura mundial e que acabe convergindo sua atenção a interesses mais ou menos comuns. A internet, sabe-se muito bem, permite que os limites geográficos deixem de ser um obstáculo para qualquer tipo de informação. Isso tudo, obviamente, acaba tendo reflexos no futebol brasileiro. E esses reflexos não são nada bons.
 
É fato que o público do futebol no Brasil não vai a estádios. O Brasil, assim como tantos outros países latinos, possui uma enorme legião de torcedores de sofá, que raramente vai a um estádio, preferindo assistir um jogo no conforto da sua casa, da casa do amigo, ou do bar. Nada mais sensato, afinal ir a um estádio no Brasil é complicado e inseguro, além do jogo poder ser potencialmente chato.
 
Esse fato, por si, não é um problema, afinal o dinheiro que a televisão arrecada com seus telespectadores é eventualmente revertido em capital para os clubes brasileiros. Esse foi, pelo menos, o cenário até atualmente.
 
Agora, porém, é perceptível o surgimento de uma nova tendência no futebol brasileiro. Essa sim é pouco boa. Com a decadência da estrutura do futebol nacional e a conseqüente saída dos principais jogadores, é natural que os campeonatos estrangeiros, em especial os europeus, comecem a ganhar importância no país.
 
Isso afeta, e muito, a nova geração de torcedores de futebol que surge no Brasil. Hoje, é mais fácil uma criança assistir um bom jogo de algum campeonato do velho continente do que um bom jogo do futebol brasileiro. Com o avanço tecnológico, ficou tão ou mais fácil obter informações e criar uma identidade com clubes e jogadores da Europa do que do Brasil.
 
A própria disponibilidade das partidas não colabora. Com a gradual migração do futebol para a televisão fechada, Brasil e Europa competem dentro do mesmo meio. A diferença é que os horários dos jogos europeus, manhã e tarde, são muito mais amigáveis para uma criança do que qualquer horário depois da novela do futebol nacional. Além disso, enquanto as melhores partidas dos campeonatos europeus estão facilmente disponíveis nos canais da televisão fechada – e até da televisão aberta – as melhores partidas do futebol brasileiro ficam restritas ao pay-per-view.
 
Mercadologicamente, fica ainda mais simples compreender a decadência do futebol brasileiro. Analisando as matrizes básicas do marketing (produto, preço, ponto e promoção) o futebol brasileiro vem perdendo cada vez mais espaço. Em comparação com o futebol europeu, o produto é pior. O preço, baseado no pacote de televisão, também. O ponto, ou distribuição e acesso, era uma antiga vantagem, mas que hoje já não se aplica mais. A única matriz na qual o futebol brasileiro ainda consegue se sustentar é a promoção dos jogos, feita principalmente pela imprensa e pela história.
 
Entretanto, uma das regras mais básicas do marketing diz que nenhum produto se sustenta por muito tempo unicamente apoiado em promoção. Hora ou outra ele acaba tendo um fim.
 
É o prenúncio de uma morte lenta e agonizante do futebol brasileiro. Ou ele se ajeita, e logo, ou ele acaba.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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