Podemos segurar nossos principais craques no país?

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Na semana passada, li um artigo em um jornal de grande circulação nacional que, aliado ao jogo de quarta-feira no Morumbi, inspirou-me a escrever a coluna desta semana.
 
Pouco importa, para os fins desse texto, o autor do artigo em questão. Nosso interesse está em seu conteúdo, que acredito refletir a opinião de uma grande massa de torcedores: Por que o Brasil possui tantos craques, e ao mesmo tempo tem campeonatos nacionais e regionais de baixíssima qualidade? Por que nossos dirigentes não tomam alguma providência para segurar craques como Ronaldinho, Kaká para promover o esporte no País?
 
Será que existiria alguma saída viável para fazer com que esses craques passem a ignorar as ofertas milionárias feitas por grandes clubes do exterior? A resposta é bastante simples: não.
 
Mas não é essa a preocupação que devemos ter.
 
Como em toda situação crítica, antes de atacar eventuais culpados e apontar as soluções possíveis é necessário que se faça uma análise criteriosa dos fatos e uma identificação precisa do real foco do problema, que entendo estar um pouco desvirtuado.
 
Como já comentamos anteriormente, o futebol sofreu nas últimas décadas um processo de comercialização e internacionalização que o transformou em uma área de negócios muito rentável. Impulsionados pelos impactos do caso Bosman e da conseqüente extinção no instituto do “passe”, os melhores atletas profissionais de futebol passaram a receber salários elevadíssimos e também ofertas “irrecusáveis” para atuarem nos melhores clubes do cenário internacional.
 
Dessa forma, tornou-se impossível aos clubes nacionais, por mais estruturados que possam ser, manter em seus elencos as principais estrelas.
 
Essa discussão, na verdade, extrapola os limites do futebol. É uma questão que envolve a posição econômica do Brasil no cenário internacional. Esse fenômeno ocorre da mesma forma que uma empresa nacional, em qualquer outro ramo de atividade, não consegue segurar um profissional de primeira linha que tenha recebido uma oferta mais favorável de uma multinacional. É a famosa lei do mercado.
 
Quando, por exemplo, lembramos que o nosso atual presidente do Banco Central, Henrique de Campos Meirelles, morando nos Estados Unidos, foi presidente global do BankBoston, vemos o fato com admiração e, por que não, orgulho. O mesmo deve acontecer com relação aos nossos jogadores de futebol.
 
Muito bem. Isso posto, qual seria o real problema da má qualidade de nossos campeonatos nacionais e as possíveis soluções?
 
O verdadeiro problema é a literal debandada de jogadores intermediários (muitas vezes de excepcional qualidade) que, sem o mínimo de estrutura no Brasil, partem ao exterior em busca de qualquer oportunidade.
 
Esses jogadores vão para países da Ásia, África, ou mesmo para divisões inferiores de países europeus. Nessas empreitadas, muitas vezes levados pela conversa de aproveitadores de plantão, acabam se submetendo a condições sub-humanas de trabalho e convívio social.
 
Todos esses jogadores intermediários não deveriam sair do País. Deveriam ter condições mínimas financeiras para ficarem aqui, com seus familiares e amigos.
 
Foi exatamente o que disse o presidente da FIFA, Sepp Blatter, no discurso de nomeação do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014: “jogadores brasileiros, fiquem no Brasil”.
 
Com esses jogadores por aqui, poderemos ter uma melhora significativa do nosso futebol doméstico, sem tentarmos travar batalhas invencíveis com clubes como Milan, Real Madrid, Manchester Utd., etc.
 
Mas para que isso ocorra, nossas federações, confederação e demais autoridades devem se empenhar para promover uma profissionalização em nossos campeonatos e propiciar melhores condições aos clubes filiados que, por sua vez, poderão melhorar o relacionamento com seus atletas.
 
A oportunidade é boa, já que os impactos dos anos que antecedem a Copa do Mundo podem e devem ser utilizados para essa finalidade.
 
Basta seriedade; não para trazer de volta os Ronaldinhos e Kakás, mas para ter por aqui nossos infinitos craques anônimos espalhados pelo mundo.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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