Mais de meio milhão de pessoas, média de quase 39 mil torcedores por partida, nove dos dez melhores públicos do campeonato, dez das dez melhores arrecadações da competição e quase R$ 5 milhões em renda ao longo de 13 partidas.
Os números da euforia da torcida com a volta do Bahia à Série B do Campeonato Brasileiro só não são mais belos pela tragédia em que se transformou o estádio da Fonte Nova na noite do último domingo. A queda de parte da arquibancada do estádio baiano deixou pelo menos oito mortos e apagou a festa baiana.
Não dá para se falar em acidente. Pelo menos não no que diz respeito a uma tragédia num estádio brasileiro. A precariedade nas estruturas dos principais locais que abrigam eventos esportivos no Brasil é gritante e assunto muito antigo. Mas, para variar, o tema vem sendo empurrado com a barriga já há muitos anos.
Quem nunca enfrentou a “emoção” de assistir a um jogo num estádio brasileiro pode considerar o caso da Fonte Nova um acidente. Mas, a cada partida que um torcedor tem o “prazer” de acompanhar in loco, a certeza de uma iminente tragédia é latente.
O apagão estrutural dos estádios brasileiros vem desde a década de 90. Alguns deles se preocuparam em reformar, passar por melhorias e deixar a situação mais tranqüila para o torcedor. Desde 1992, quando a proteção da arquibancada do Maracanã caiu e resultou na morte de torcedores antes da decisão do Brasileirão entre Flamengo e Botafogo, passando pelo desastre da decisão da Copa João Havelange em 2000, o abandono dos estádios tem gerado muitos transtornos à indústria do futebol.
Mais uma vez a imprensa alardeará o problema, reforçará os problemas estruturais que vivemos e não fará muita coisa além disso. Infelizmente. Afinal, a partir de uma cobrança contínua e eficiente, é possível provocar a mudança de comportamento dos dirigentes.
A queda na Fonte Nova faz a Bahia perder pontos até no projeto de abrigar partidas da Copa do Mundo de 2014. Mas revela também a necessidade de, para o bem do futebol, o país conseguir conter a falha estrutural que corrói os estádios e demais praças esportivas.
Investir milhões em novas arenas não é mera jogada de marketing ou até mesmo exigência para o país abrigar a Copa. O apagão dos estádios precisa ser resolvido urgentemente. Do contrário, o torcedor ficará afastado do futebol. E, junto com ele, todo o consumo que ele pode gerar. Isso sem falar, mais uma vez, em vidas perdidas pela negligência e conformismo de quem está no poder.
É mais um apagão na fila dos “apagões” que se transformou o país.
Para interagir com o colunista: erich@universidadedofutebol.com.br