Faz sentido

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O Corinthians caiu para a Série B, e isso é bom para todo mundo. É bom para os torcedores dos outros times da Série B, é bom para os times que ficaram na série A – um grande a menos para competir no ano que vem -, e é bom principalmente para o Corinthians.
 
Os torcedores corintianos, obviamente, não devem concordar comigo. Mas uma matéria da Folha de São Paulo assinada pelo jornalista Paulo Cobos, que se baseou nos sempre muito úteis dados da Casual Auditores Independentes, diz que dos últimos cinco clubes fundadores do C13 que caíram para a segundona, quatro tiveram acréscimo de receitas no ano em que passaram na divisão inferior. O único que não obteve dividendos com o rebaixamento foi o Botafogo. Bem que dizem que tem coisa que só acontece por aquelas bandas.
 
E não foi coisa pouca, não senhor. Bahia, Grêmio e Atlético Mineiro chegaram a ter um acréscimo nos seus faturamentos em cerca de 50%. Faz algum sentido isso? Não, não faz. Mas tentemos tirar algumas conclusões.
 
Peguemos o exemplo mais recente, o Coritiba, que ficou duas temporadas jogando na Série B, e façamos uma breve análise baseada apenas nos dados disponibilizados pela CBF, ou seja, na receita proveniente da bilheteria dos jogos em casa. Em 2004, ano em que o Coritiba acabou em 12º lugar na Série A, meio da tabela, a média de público foi de apenas 7.393 pagantes por jogo. Em 2005, ano em que foi rebaixado, a média de público cresceu para 18.688 pagantes por jogo, um acréscimo de 152% em relação ao ano anterior, apesar da significativa piora de performance. Em 2006, ano em que acabou na sexta colocação da Série B, a média de público do Coritiba foi de 10.715 pagantes por jogo. Apesar de ter sido apenas 6ª maior média da Série B, o Coritiba teve mais público que seus conterrâneos, Atlético Pr e Paraná, que jogaram na Série A. A média de receita também superou a do Paraná, mas ficou abaixo da média do Atlético Pr, coisa que não aconteceu em 2007, ano em que o Coritiba sagrou-se campeão da Série B. Neste ano, a média de público do clube foi de 17.377 pagantes por jogo, o que gerou uma renda média de R$253.658,84. Tanto a média de público quanto a média de receita gerada por ingressos do Coritiba foram superiores que as do Atlético Pr e do Paraná.
 
Caso o Coritiba tivesse jogado a Série A deste ano e mantivesse as mesmas médias de público e renda, ele teria a 10ª maior média de público e a 7ª maior média de renda por jogo. O preço médio de ingresso do Coritiba neste ano ficou em R$ 14,60 por jogo, o mais elevado da Série B e, se comparado com a Série A, foi superado apenas por Atlético Pr (R$18,42), América RN (R$ 15,53), Palmeiras (R$ 15,46) e Botafogo (R$ 14,81). Mais estranhamente ainda, aliás, muito mais estranhamente ainda, a média do preço por ingresso do campeão da Série B (R$ 14,60) foi 17% maior do que a média do preço por ingresso do campeão da Série A (R$ 12,45). Faz algum sentido isso? Não, não faz.
 
Esses dados, porém, restringem-se apenas às receitas provenientes dos ingressos em dias de jogo. Obviamente que o São Paulo, campeão da Série A, irá obter muito mais receita do que o Coritiba, principalmente dos contratos de patrocínio e de televisão. Entretanto, os dados aqui apresentados somados aos dados da Casual Auditores Independentes apresentados pela reportagem de Paulo Cobos mostram bem o quão confusa é a indústria do futebol brasileiro.
 
Em uma indústria normal, clubes que jogam em melhores divisões possuem maiores receitas, levam mais gente aos estádios e cobram mais caro pelos ingressos. Obviamente que existem exceções pontuais, mas a regra é essencialmente essa. Por conta da necessidade de apresentar maior qualidade em campo, clubes de divisões superiores também gastam muito mais em salários e transferências do que clubes de divisões inferiores. Como em indústrias normais boa parte dos contratos com os jogadores tende a ser mais longos, os clubes que caem de divisão acabam tendo sérios problemas financeiros, uma vez que têm que continuar a arcar com contratos elevados enquanto sofrem uma grande redução de suas receitas.
 
No Brasil, como visto, a queda de divisão para clubes mais tradicionais não significa necessariamente uma perda muito grande de receita, uma vez que o contrato com a televisão possui uma cláusula que atenua a queda e que os torcedores aparentemente preferem ganhar na Série B do que perder ou empatar na Série A. Além disso, e talvez mais importante ainda, boa parte dos contratos com os jogadores é de pouca duração, o que permite que o clube renove o seu elenco e adapte sua folha salarial sem maiores preocupações. Levando-se em conta, ainda, que a atenção dada ao clube tradicional jogando a Série B é tão grande ou maior do que aquela dada quando ele jogava a Série A, e que a qualidade da Série B é relativamente menor do que a qualidade da Série A, fica muito mais fácil ter jogadores em destaque. Como o nível técnico tende a ser menor, um jogador mediano da Série A acaba sendo um bom jogador na Série B. Com a grande atenção da mídia e do público, os bons jogadores da Série B que jogam por um clube tradicional acabam sendo considerados bons jogadores de um modo geral, independente da divisão em que esteja, o que possui um impacto sensível no preço que pode ser cobrado por uma eventual transferência. Isso vale especialmente para jogadores saindo das categorias de base.
 
Com tudo isso, não é surpresa que acabe sendo mais rentável para o clube jogar a Série B do que a Série A. Mostra, um pouco, como é confuso o futebol brasileiro, uma vez que um clube ganha mais perdendo do que ganhando. Para um clube grande, vale mais a pena acabar no topo da Série B do que no meio da Série A.
 
Sorte, acho, que os clubes não são organizações com fins econômicos, o que impede que eles definam seus objetivos baseados na performance em detrimento à performance esportiva.
 
Fossem os clubes empresas, como muitos parecem preferir, a ‘luta contra o rebaixamento’ se transformaria em uma ‘luta pelo rebaixamento’. Faz algum sentido isso? Não, não faz.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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