Até Cristiano Ronaldo (apesar do bico na festa da Fifa) e Lionel Messi teriam votado no campeão da Europa e do mundo em 2007. Kaká pode até não ter sido o mais luminoso jogador de janeiro a abril, honra que cabe ao meia-atacante português do Manchester United. O craque brasileiro pode até não estar sendo o mais brilhante jogador desde a retomada da temporada européia, em setembro – mérito de Messi.
Mas quem ganhou mais títulos? Quem foi mais determinante e desequilibrante? Quem, aliás, consegue ser tão equilibrado dentro e fora de campo?
Kaká é um modelo de craque, de profissional e até de homem – minha mulher pede para acrescentar. João Saldanha, com toda a razão do mundo que é de Kaká, dizia que não escolhia jogador para casar com as filhas. Mas o meia-atacante milanista pode ser apresentado numa boa para qualquer sogra.
Kaká é tão bom e tem sido tão regular que ele faz todo time funcionar.
Mas será que é ele quem faz a diferença ou todo o conjunto de Seedorf, Pirlo e Nesta que ajuda Kaká a desequilibrar?
Um pouco, ou melhor, um muito de tudo.
Fala o presidente de honra do Real Madrid, o maior craque do clube mais vezes campeão do século XX, o argentino Alfredo Di Stéfano: “Nenhum jogador é tão bom como todos juntos”.
Não que o Milan deva ter 11 Gattusos sem a bola, e 11 Kakás com ela aos pés. Mas um pouco da grinta e da garra de Gennaro para recuperar a pelota, um tanto do talento de Kaká para articular o ataque compensam. Mesmo tendo de tomar a bola na intermediária, partir com ela em linha reta, armar os lances para os gols de Inzaghi, Kaká ainda depende do suor e do saber da equipe.
No limite, até o ilimitado Santos de Pelé podia prescindir do rei. Tire Pelé daquela máquina e ela ainda funcionava bonita. Como mal soube o próprio Milan, derrubado na decisão mundial de 1963 pelo Santos de Almir Pernambuquinho.
Desde o primeiro prêmio da Fifa (1991) para o craque mundial da temporada, raros os melhores do ano que também ganharam o planeta por clube ou pela seleção. O rossonero Kaká em 2007, o italiano tetracampione Cannavaro em 2006, Ronaldo em 2002 (pelo Real Madrid e pelo Brasil) e Romário em 1994 (pela seleção tetracampeã) são as exceções que deveriam ser regra.
Eles fizeram bonito com equipes que os ajudaram nas conquistas. Campeões que nem sempre estão guardados nos olhos pelo talento. O tático e organizado até a medula Brasil de Parreira, em 1994, não era um primor de futebol, mas era time para ser primeiro de tudo. Sobretudo pelo diferencial que foi o gênio de Romário, craque que dispensa a parte tática para ser explicado – só não sei como ele vai se virar para explicar o que quer de seu time como treinador do Vasco.
Ronaldo é outro caso à parte no Brasil que só engrenou, de fato, na Ásia, em 2002. Time que não funcionava antes, nem depois. Explodiu quando preciso. E como Ronaldo foi necessário no 3-4-2-1 de Felipão. Uma das mais belas histórias de superação da antologia do esporte. Um conto de Walt Disney com roteiro de novela mexicana que é diabético de tão doce. E ao mesmo tempo, tão real quanto o talento do fenômeno.
A pragmática Itália campeã de 2006 só poderia ter como talento maior um zagueiro em forma estupenda como Cannavaro. Epítome do calcio que produz talentos como Totti e Buffon, mas que fica na retina e até na raiva pela excelência de sua marcação.
Agora, Kaká é o diferencial do Milan. Apenas o quarto craque de um campeão mundial premiado pela Fifa.
Uma entidade que, pelo visto, apesar de “association”, gosta de dar mais bola ao craque individual.
Como qualquer torcedor do futebol. Profissional ou não.
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